


Mais um parágrafo e fica subentendido que a pouca quantidade de mamógrafos no país é uma espécie de causa do aumento do número de mortes por câncer de mama. Afinal, dados do Inca de 2003 afirmam que 9.335 mulheres morreram de câncer no país, e houve o surgimento de 41.610 novos casos. Tudo isso num país onde o câncer de mama é o campeão das mortes de mulheres. Daí a necessidade da importação da grande estrela, a máquina superfaturada que custa quase R$ 500 mil a unidade.
Agora, se a campanha vai ou não orientar a mulher brasileira sobre a existência de produtos cancerígenos nas tintas de cabelo, nos subprodutos da indústria utilizados nos medicamentos, nas comidas industrializadas, nos produtos de limpeza e nos cosméticos, isto sequer é mencionado. Se a campanha vai falar sobre os riscos de um mamógrafo estar desregulado ou mal-regulado a fim de apresentar uma nitidez maior, o que foi verificado na Europa como um possível desencadeador de câncer de mama, isso não se lê. Também não se sabe ou se tenta saber se a licença-maternidade de quatro meses, aliada à necessidade do bebê de mamar exclusivamente no peito da mãe até os 6 meses, que obriga desmames abruptos e malfeitos, tem alguma incidência no índice de câncer das brasileiras.
A campanha contra o câncer de mama, que deverá a partir dos próximos dias ser veiculada pela imprensa, é uma campanha a favor da compra de mamógrafos, a favor do deslocamento em massa de mulheres em busca de mamografias, o que, segundo a notícia da Folha, nos leva a entender que diminuiremos a incidência de biópsias desnecessárias e de eventuais ansiedades e depressões acarretadas pelo auto-exame. Credo, é para rir ou para chorar?
Mastectomia radical
O que sobra para as mulheres brasileiras, vítimas ou não de câncer, pobres ou ricas, com baixa ou alta escolaridade, é mais uma obrigação muito mal-disfarçada de direito. A mercadização da medicina embreta as mulheres numa linha de montagem de exames mecanicistas, ignorando as singularidades das condições femininas no universo profissional e social contemporâneo. Não se leva em conta o transtorno emocional da mãe que deixa seu bebê numa creche antes de ter tempo suficiente para desmamá-lo gradualmente. O mercado médico ignora a tristeza da mãe por ter que comprar um leite pior com o pouco dinheiro que consegue, enquanto carrega o melhor dos leites para o trabalho; e nem falamos aqui de pílulas, silicones e hormônios, porque não é preciso, já que as causas do câncer de mama não são conhecidas, não são pesquisadas, são um mistério para a medicina, muito mais interessada em sanar o mal com o pior ainda.
E também porque seria uma bobagem falar sobre causas do câncer numa campanha do câncer de mama que não é a favor da saúde da mulher e não tem consideração pelas necessidades básicas do corpo da mulher. É uma campanha para alimentar um círculo vicioso, no qual o mais importante é o faturamento econômico.
Só para terminar, uns dados pessoais e nada científicos
Nos últimos cinco anos seis pessoas próximas a mim tiveram câncer de mama. Quatro delas tinham 40 anos ou um pouco mais, e essas quatro haviam feito mamografia entre seis e 12 meses antes de detectarem, por auto-exame, um nódulo que não apareceu nas mamografias, mas alguns meses após a mamografia. Duas delas fizeram mastectomia parcial, e as outras duas, radical.
Das seis, duas eram jovens, e não haviam feito mamografia. Ambas desenvolveram um tipo de câncer de evolução muito rápida, o que as obrigou, logo depois do auto-exame e da biópsia, à mastectomia radical, pois o nódulo aumentou visivelmente de tamanho em uma semana.
Querida companheira, é uma alegria compartilhar esta angustia, que nos move em direção a uma morte no minimo, digna. Tenho lutado contando com a solidariedade daqueles que têm coragem de olhar para o futuro, sem mêdo. Não quero deixar isto como legado para gerações futuras. Abraço carregado de afeto.
ResponderExcluirclaudemir sereno, ou simplesmente alemão