Para a filha de cinco anos tiramos o chapéu da vaidade; para a de 15, o da aventura. Para a filha adulta tiramos os chapéus da vida profissional, sexual e da maternidade. No final de tudo duas velhinhas, muito íntimas, saberão que da vida nada se leva e nada se perde quando o amor dita as regras. Por Cláudia Rodrigues

Com dois anos a princesinha já calça o sapato da mãe, mexe na caixa de bijuterias e sente-se super à vontade para exclamar a famosa frase que deixa as mamães babando de orgulho: “Tô igual à mamãe”! Mas conforme cresce, a garotinha começa a não se satisfazer com a imitação. Quer mais do que se identificar; deseja ser ela mesma, arranjar um espaço feminino próprio e não idêntico ao da mãe. Como não pode resolver totalmente as questões da sexualidade, porque ainda é criança, parte para a briga: em alguns casos de forma dissimulada, em outros mais explícita. Aparecem batons quebrados, crises de rebeldia para pentear o cabelo ou até uma repentina dor de barriga na hora de ver a mãe sair toda feliz com uma roupa nova. Se para os meninos idolatrar a mãe é algo natural, mesmo depois que passam a identificar-se com o pai; para as meninas não é bem assim. Ao mesmo tempo em que adoram suas mães e desejam ser como elas, lutam internamente contra isso; principalmente se a mãe não aceita a disputa por espaço como algo natural e entra no jogo da competição. É igualmente doloroso, talvez mais, quando a mãe nem se digna a competir e já entra vencendo, como se sua superioridade fosse algo inatacável. Nesse caso a mãe passa uma mensagem implícita: “desculpe, filha, não tenho culpa de ser melhor."
Normalmente as mães afirmam que não competem com suas filhas. Elas amam suas pequenas, desejam o melhor para as garotas e parece absurda a ideia de se engalfinharem numa disputa com suas filhinhas. Pode ser mesmo. As mães são adultas e não precisam competir, ainda mais com uma criança e principalmente se tratando de filhas. Acontece que as meninas precisam competir e sentirem-se vencedoras de alguma forma. Quando seus desejos e fantasias de competição são aceitos, elas sentem-se seguras o bastante de sua identidade e voltam a buscar parceria com a mãe. Mas esse é um tempo só delas, das pequenas. À mãe cabe receber a competição, o desejo e as fantasias da garota ao invés de impor sua vontade. Afinal, entre os quatro e os sete anos, as disputas entre mães e filhas ficam em torno de coisas banais para adultos, mas muito importantes para a criança; como escolha de roupas, penteados e sapatos.
Roupas, um ícone de identidade para as pequenas
Chamado de emergência para o pai salvar sua princesa

Toda a mãe quer o melhor para a filha. Por vaidade, falta de tempo e milhões de enganos, que ficaram perdidos na poeira do inconsciente, muitas vezes, uma mãe bem intencionada coloca os pés pelas mãos. Na hora de arrumar-se para uma festa, por exemplo, depara com sua adorável princesa dentro de um vestido velho e amarrotado, usando o mesmo laçarote que coloca todos os dias para ir à escola; depois de ter dispensado a opção que a mãe deixou em cima da cama, passadinho para a ocasião. É praticamente impossível não pensar sobre o que os outros vão pensar e a mãe, com a melhor das intenções, sentindo-se desafiada, é capaz de exclamar que a filha está horrível. Danos ao ego à parte, a solução é chamar o pai para salvar a princesa das garras da bruxa. Cabe a ele consolar a filha, dizer que ela fica bonita com qualquer roupa, mas que a ocasião pede um outro vestido. Com carinho ele pode escolher, em parceria com sua princesa, uma terceira opção. Mas se o pai entrar de sola, autoritário, obrigando a menina a colocar a roupa que a mãe escolheu, os danos à formação da identidade feminina serão ainda maiores. A mãe sairá como vencedora, com direito a coroa, príncipe e tudo, não havendo histórias de Cinderela ou Mulan que curem essa ferida narcísica.
Esse texto me ajudou muito, obrigada querida.
ResponderExcluirEsse texto me ajudou muito, obrigada querida. [2]
ResponderExcluirNOSSA...SENTI ISSO NA PELE...MINHA MÃE JÁ ENTROU NA MINHA VIDA DIZENDO:_ SINTO MUITO, VOCÊ PERDEU!
ResponderExcluirE FAZ ISSO ATÉ HOJE.
O PIOR É QUE ELA NÃO ADMITE ISSO.QUER ACREDITAR QUE NUNCA FEZ NADA DE ERRADO COMO MÃE E QUE EU SOU INJUSTA. ELA DIZ : _VEJA SEU IRMÃO, ELE NÃO TEM PROBLEMAS COMIGO!
E VAI DIZER PARA ELA QUE É PORQUE ELE É HOMEM...
TODOS IDOLATRAM MINHA MÃE...MENOS EU...
BJS
Um dia uma amiga e eu estávamos conversando/estudando sobre esse assunto, competição entre mães e filhas e a mãe dela chegou e entrou na roda.
ResponderExcluirAí minha amiga explicou que toda mãe compete de um jeito ou de outro em algum momento, em algum tema.
A mãe dela ficou horrorizada e disse: Eu minha filha, eu competir com uma filha? Com minha única filha mulher? Eu competir com você D? Eu que na minha vida nunca precisei competir com ninguém, sempre entrei ganhando em tudo!
Minha amiga e eu nos finamos de rir e voltamos a estudar o assunto.
Esse artigo me ajudou muito. Estava me sentindo fracassada por não conseguir entrar em entendimento com a minha filha de 7 anos. Ela tem tentado controlar o que eu faço, o que eu visto... Ficou mais claro pra mim que isso é normal. Difícil é achar o meio termo para lidar com a situação...
ResponderExcluirBateu no meu plexo, Claudia! Obrigada por resgatar e compartilhar.
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