segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ancestralzinha

Cláudia Rodrigues*

Será que eu precisava do tal exame complicado, da agulha entrando aqui dentro? E se mamãe fizesse o exame e desse positivo para Síndrome de Down, por exemplo? Pelo que estou sentindo seria só para causar cansaço e preocupação durante a gravidez. Esses dias ela estava contando ao papai que não possui um espírito tecnológico altamente desenvolvido a ponto de testar drogas durante a gravidez ou se submeter a qualquer tipo de cirurgia intra-uterina. Ela acha normal uma jovem de 20 anos querer livrar-se de uma gravidez de risco ou indesejada, mas confessou ao papai que aos 38 anos não tem mais coração para consertos ou desagravos. Ela diz que simplesmente me quer, não importa nem mesmo se eu nascer peixe. E aí os dois começaram a rir porque lembraram do sonho da mamãe da noite anterior. Ela sonhou que havia chegado a hora do parto e eu não era eu, nem menino, nem menina, mas muitos peixes pequeninos e saltitantes. E mamãe ficava contente mesmo assim e tentava segurar os peixinhos e estava a providenciar uma moradia conjunta numa banheira gigante quando acordou. Acho que não sou peixe e também desconfio de que serei uma ser humanazinha bem normal. Foi assim com mamãe, a mãe da mamãe, a mãe da mãe da mamãe. Todas as mulheres da família da mamãe e do papai nasceram normalmente e são normais. Não serei eu o azarão. Era só o que faltava! Mas que eles vão ter que dar conta de mim do jeito que eu sou, isso vão.

Depois do susto com os exames e da glória em saber que eu estava bem, mamãe relaxou completamente, no bom sentido. Continua se alimentando bem, sem consumir produtos com corantes, estabilizantes e conservantes. Não bebe refrigerantes, evita guloseimas e doces, mas come com bastante gula a comida, as frutas, os iogurtes naturais, os cereais... Ela está gordinha, a cada mês engorda de um quilo e meio a dois quilos. O Dr. Marcos explica que o padrão “light” de engordar no máximo um quilo por mês é uma obsessão do mercado da moda e que até pode ser um bom parâmetro para mulheres pequenas. Mas mamãe é grande e eu sou gulosa, confesso. Quando ela passa mais de três horas sem comer, eu me contorço e ela já sabe: hora de atacar uma banana com iogurte e mel bem no meio da tarde. E aquela história de uma fatia de queijo branco em uma fatia de pão integral acompanhada de um suco, bastante comum nos conselhos feitos por revistas para grávidas, que divulgam interesses do comércio e da publicidade, soa como absurdo para nosso apetite. Mamãe e eu adoramos um sanduíche de pão integral com muita salada e no almoço ou jantar não fazemos boquinha; comemos muito de tudo.

Meus irmãos também comem de tudo e a parcimônia é só mesmo para as guloseimas, restritas ao fim de semana. Mamãe tem certeza de que eles comem bem porque foram acostumados desde a gravidez a alimentarem-se com todos os legumes, verduras, cereais e frutas. Essa certeza de mamãe não é científica, até porque muitas grávidas comem de tudo na gravidez e seus bebês recusam o seio, recusam os primeiros alimentos, se dão mal na parte oral, a da comida, entre outras coisas. Mas mamãe acha que com ela é assim e por isso faz o que acha que deve. Ontem, por exemplo, ela fez quiabo com frango e polenta. Enquanto cozinhava ia falando comigo sobre uma tal de comida mineira, que ela aprendeu a fazer com a Eugênia, uma amiga mineira, que também faz uma carne esquisita e muito saborosa, o lagarto. Mamãe não aprendeu a fazer lagarto, mas já me contou. Quando sair daqui, um dia, vou querer experimentar.

Se eu entendo o que mamãe me conta? Não corticalmente, por meio de raciocínios complexos, digamos assim, mas eu sinto, e, por incrível que pareça, sinto de uma forma ainda mais complexa do que um adulto, justamente porque sou inteiramente livre para sentir.

Ah! Já ia esquecendo do casal de amigos do papai e da mamãe que veio em nossa casa preparar uma paella, com direito ao pistilo da flor do açafrão espanhol e tudo mais. Exageramos. Eu já estava cansada de tanta conversa de adultos e por mim, se pudesse viver separada da mamãe, teria ido dormir com meus irmãos, mas mamãe ficou animadíssima, repetiu o prato três vezes e até se deu ao direito de beber uma única taça de vinho espanhol, com o consentimento de papai, que alegou ser o vinho um vasodilatador. Ninguém é perfeito e, como lembrou mamãe, na família dela e na de papai não há nenhum caso de alcoolismo. Tem neuras mil, claro, mas por coincidência nenhum alcoólatra. Assim, a chance de eu me tornar uma viciada em álcool porque mamãe bebeu uma taça de vinho em um jantar muito especial, é mínima. Mas ela sentiu um pouco de culpa e eu nada, fora a vontade que chegasse a hora dela deitar de ladinho, colocar o travesseiro extra no meio das pernas e receber o abraço de papai e a mão grandona e quentinha dele em cima da minha coluna. Nessa hora eu fico feliz, relaxada para me mexer e posso aproveitar melhor a chegada dos alimentos via placenta. Ah, se as mamães soubessem o quanto é importante tirar uns períodos de descanso durante o dia! Muito tempo sentada, muito deitada ou muito em pé não nos fazem bem. Nós, bebês, precisamos de uma certa dose de movimentos alternados com descansos.

No tempo das nossas ancestrais, as mulheres passavam o dia se movimentando bastante, mas também descansavam; havia uma cultura de poupar a grávida de trabalhos pesados, ao mesmo tempo em que se exigia dela uma maior responsabilidade com o enxoval do bebê, costuras, comidas, arrumação do ambiente da casa. Mas isso faz muito tempo. Hoje em dia, ao mesmo tempo em que se poupa a grávida de dar conta do trabalho com o bebê que está na barriga -- os enxovais vêm prontos – se exige muito dela em termos de trabalho pesado, se espera que a grávida consiga trabalhar no mesmo ritmo de antes, o que às vezes significa passar 10 horas em frente a um computador, 8 horas em pé ou 8 horas sentada com pausas muito pequenas para descanso. A mulher moderna tem de ser forte como funcionária, como mulher independente, mas acaba ficando frágil na única parte que mais interessa a nós, bebês: mais tempo disponível na agenda para fazer, sentir e pensar em unidade conosco dentro de suas barrigas.

Bem, voltando à paella, mamãe e papai adoraram, mas meus irmãos, logo após todos terem elogiado o Sr. Tião Gourmet, resolveram dar a opinião, e foram unânimes: “a da mamãe é melhor”. Todos riram porque essa coisa de achar a comida da mãe melhor é mesmo engraçada. Mamãe, por exemplo, nunca vai conseguir, segundo papai, fazer uma polenta igual a da vovó Rosa, a mãe dele. É que a ancestralzinha não fala só para mulheres. Os homens também têm inscritas as mensagens deixadas por seus ancestrais.

Bem, não é tão importante que as mamães saibam ou gostem de cozinhar para que seus filhos venham a ser bons garfos, como se diz. Existem mulheres que simplesmente detestam mexer com comida. Mamãe, por exemplo, não faz questão de cozinhar sempre, mas quando está grávida, curiosamente, fica enlouquecida de desejo para fazer comida. Ela já acorda de manhã pensando no que vai fazer para o almoço. Na gravidez do meu irmão mais velho, ela sentia-se até meio envergonhada por causa disso, temia emburrecer, trocar as letras pelos temperos, virar uma dona-de-casa infeliz e burra que só saberia trocar receitas com as vizinhas. Ah! Que bobagem! A cozinha é uma arte: tem o poder de soltar a musculatura límbica, aguça os sentidos, pode ser uma atividade tão prazerosa quanto pintar um quadro, produzir um texto. Mas isso mamãe foi descobrindo aos poucos. É que ela nasceu na década de 60, e na juventude, quando estava amadurecendo seu corpo de mulher, em plenos anos 80, foi filhote das idéias feministas americanas, viveu toda aquela história da Nova Mulher, da competição com os homens, da divisão igual de papéis, aquela dureza de época, que cheirava a cigarro e vozes femininas roucas de revolta contra as condições da mulher. Mas mamãe também conheceu o feminismo europeu, francês, um feminismo que lutava por outros direitos, como o de amamentar, permanecer mais tempo junto ao bebê, ter o direito de usufruir das diferenças, ser mulher sem medo de ser graciosa, sem confundir delicadeza, capacidade de dar amor e receber um bebê nos braços com burrice, falta de capacidade intelectual ou submissão.

Nossa, os adultos são mesmo complicados!

Mamãe vive meio dividida ainda, mas para a minha sorte, já peguei carona numa barriga mais folgada e hoje em dia ela já não fica em conflito quando a ancestralzinha invade seu coração, rouba suas melhores idéias em troca de uma receita de última hora que surge no meio da manhã, assim, do nada.

Na gravidez do meu irmão mais velho mamãe descobriu a arte de fazer feijoada, bolinhos de folha de cenoura, de espinafre e tortas, dos mais variados legumes, assadas no forno. Naquela época ela tinha uma mão e tanto para bolos, eles ficavam fofinhos feito pão-de-ló. E olha que ela engravidou sem saber fritar um ovo!

Na gravidez da mana foi a época dos pães e das geléias. Mamãe parecia uma Frederike, e não é que minha irmã nasceu ruiva? E de todos os filhos é a que mais parece com a família alemã do papai! Foi também na gravidez da Gaia que mamãe desconfiou que estava esperando uma menina, pois foi atacada por um desejo súbito de costurar, coisa em que jamais havia metido a colher, quero dizer, a agulha.

E eu sou, segundo a mamãe, a mais mediterrânea dos filhos. Mas isso é coisa do psiquismo dela, eu diria que ela está tendo a mais mediterrânea das gravidezes. Sabe como é, mãe sempre transfere um pouco. Na minha vez, além das paellas, apareceram os kibes, biscoitos marroquinos, coalhadas secas e frescas, sem contar com a descoberta dos peixes de alto-mar e das moquecas, que agora viraram pratos constantes na nossa casa. Nozes, pistaches, tâmaras e algo do oriente bem presente: a comida japonesa. Mamãe, o Tao e a Gaia deram para fazer sushi!

Uma relação muito louca

Quer ver mamãe muito brava? Aparecer um trabalho que não lhe permita preparar o almoço. De maneira geral ela consegue administrar o tempo de tal modo que por volta de 11h ela desliga o computador e vai para a cozinha, mas tem dias em que o volume de trabalho está maior, o prazo apertado e ela simplesmente não consegue parar e opta por não fazer o almoço. Não é nenhum desespero e todos curtem sair para almoçar fora. Mas nesses dias mamãe sempre fica mal-humorada. Parece que é por outro motivo, mas eu, que vivo aqui dentro, sei bem o que é: ela adora ir para a cozinha, cumprir o ritual de colocar o avental vermelho, a tábua de legumes sobre a pia, sentir o aroma do alho, orégano, tomilho e do cheiro verde se espalhando pela cozinha bem naquela hora em que o sol entra pela janela todos os dias. É um momento bem nosso, meu e dela. Nessa hora meus irmãos estão na escola, meu pai está trabalhando e ela fala comigo sem ser secreta, sem ser de pensamento. Ela fala mesmo, fica explicando como tudo deve ser feito ou contando histórias sobre panelas, comidas, pessoas. O papai esses dias, foi dizer para ela fazer um teste de televisão para ser aquela que cozinha ao vivo. Ela até chorou. Que boba! O papai é engraçado, tem um humor fino, meio negro às vezes, mas nesse caso era só um sarrinho. Ela é que levou para o lado mau.

Coitado do papai, vive se surpreendendo com as mudanças da gravidez e se desculpa por não lembrar mais como era. E mamãe cobra, fica falando que ela lembra, relembra, revive e ele parece que tem amnésia gravídica. Meus irmãos caíram na risada quando papai explicou que não tem como ter amnésia gravídica porque nunca esteve grávido na vida. Mamãe riu dessa vez, ela ainda tem algum senso de humor, mas a gravidez tem afetado um pouco sua elasticidade mental e emocional. Dia desses papai se surpreendeu mais uma vez. Ao reclamar que mamãe estava mal-humorada, ela logo retrucou que era porque não estava tendo tempo para a ancestralzinha. Segundo mamãe, a ancestralzinha é uma mulher bem pequenina que habita a memória ancestral de toda a mulher, por mais civilizada, por mais “nova mulher” que seja uma mulher moderna. É essa ancestralzinha que sente desejos, medos típicos da gestação, emoções mais fortes, e, quando a mulher dá crédito à sua ancestralzinha, surgem ações primitivas que beneficiam a relação da mãe com seus filhos, como os atos de cozinhar, costurar, e cuidar da sua prole desde a mais tenra idade.

A teoria maluca da mamãe, que não tem qualquer embasamento científico, diga-se de passagem, diz que dar ouvidos à ancestralzinha facilita a vivência da gravidez, o desenvolvimento normal do parto e o aleitamento. Quando a mulher não escuta sua ancestralzinha, não a deixa agir, não tem tempo para ela, fica metida demais com tudo o que está fora e vai perdendo o contato com seu corpo. Ao se aproximar a hora do parto, tudo é visto como uma coisa de outro mundo e, sentindo-se desamparada, sem conexão com sua filogenia, ela perde a guarda dos processos que desencadeiam o parto e acaba “deixando-se salvar” pelos médicos.

Uma pesquisa feita na França, onde o índice de partos normais tem crescido, revelou ser o monitoramento do parto, quando a parturiente fica ligada a máquinas que fiscalizam o bebê no útero, o responsável por um aumento de 30% das cesarianas. As máquinas, segundo a pesquisa, juntamente com os exames, luzes, e a presença de pessoas estranhas à mãe, ativam o neocórtex da mulher, a parte mais civilizada, a última parte do cérebro que foi desenvolvida no ser humano a partir do tronco cerebral límbico, mais primitivo. Quando o neocórtex é ativado na hora do parto, justamente a conexão com o centro límbico, que iria resultar em um relaxamento da musculatura límbica, é desativada, e, em vez de a musculatura estriada trabalhar e a límbica relaxar, ocorre uma inversão: a musculatura estriada relaxa e a límbica se contrai. Traduzindo para o bom português, a mulher fica mole por fora e dura por dentro: sem contrações, sem dilatação, ruma para uma cirurgia.

E não é que a teoria maluca da mamãe tem uma explicação científica?

Pois é, legal seria se a medicina e a ciência, as pesquisas, pudessem acompanhar a fisiologia dos corpos dos seres humanos, que mudou muito pouco de vinte mil anos para cá. O que ocorre é que há uma velocidade crítica no cientificismo, nos mecanicismos, que tem afastado sabedorias não mensuráveis, subjetivas, como a necessidade visceral que uma mulher tem de acreditar que seu bebê vive saudável no útero. O fato de poder ser socorrida em uma emergência na hora do parto tem se transformado em um atalho para que a mulher e o bebê nem tentem dar conta da luta pela sobrevivência. Qual será o preço disso? Teria, esse relaxamento da musculatura estriada e esse estreitamento da musculatura límbica, algo a ver com o excesso de oralidade a que está submetida a civilização humana moderna?

As fixações orais, que resultam de uma vivência inadequada da fase oral, que vai do nascimento até os dois anos de idade, um pouco mais ou um pouco menos, são causadas justamente por um rebaixamento do tônus muscular e um estreitamento do sistema límbico, segundo as teorias e práticas da Bionergética e da Educação Somática. Para a teoria psicanalítica, as fixações orais ocorrem com mais freqüência devido à ausência de disponibilidade materna ou a maternagem de um substituto adulto, que deve satisfazer as necessidade básicas da criança de alimentação, acalanto, limpeza e cuidados gerais, sem que a criança espere demasiado tempo para ser atendida. Um excesso, como superproteção e incentivo à gula, ainda segundo a psicanálise, seria igualmente prejudicial no sentido de desenvolver fixações orais.

Ai, os adultos, como são complicados! Mas vocês sabem o que é mesmo um ser humano adulto oral? É aquele que pendura, como devem pendurar os bebês de 0 a 2 anos. Fica devendo, chega sempre atrasado, coloca a culpa nos outros e é ou muito magro, com problemas de alimentação, ou muito gordo, também por problemas em administrar a comida. Chi! Essa explicação está bem limitada, mas querendo saber mais é só ler o Sigmund Freud, o Alexander Lowen, Stanley Keleman, Margareth Mead, Margareth Mahler, Melanie Klein... Eles são muitos, o povo que estuda seriamente as fases e necessidades dos bebês dedica-se com afinco à causa. Eles não afirmam que a educação alimentar começa na barriga, mas depois de ler o que escreveram, observar o comportamento de povos primitivos ou simplesmente investigar a história da família, dos nossos amigos genéticos, a conclusão é única: não só a educação alimentar começa na barriga, mas também o bom andamento das fases posteriores, como a anal, a edípica e a boa costura entre elas.

Há uma necessidade enorme de se atender o corpo na gravidez. Infelizmente, para nós que vivemos aqui dentro durante nove meses, a cultura atual superestima os cuidados com estrias, aparência física e até impõe à grávida um certo orgulho que a faz obrigada a dar conta do trabalho do mesmo jeito que dava antes de engravidar, em detrimento de um contato profundo com os mistérios, com os sentimentos mais íntmos que afloram dessa estranha ligação endodérmica, mesodérmica e ectodérmica com um outro ser. E dá para ser uma grávida elegante, que trabalha e também se envolve o bastante com o bebê em seu útero? Dá, é uma tarefa e tanto, mas com sensibilidade e escuta para os pedidos mais emergentes da ancestralzinha, é possível. Um dos maiores empecilhos é o apelo constante de um mercado sedento por vendas, que acaba ocupando grande espaço na vida das pessoas e, em fase primitiva, como é o caso da gestação, uma boa opção é manter-se desconfiada do que vem de fora. Antigamente, coisa de cinqüenta anos para trás, as mulheres não tinham o poder de escolher quantos filhos teriam e muito menos tinham chance de dar uma gostosa espiadela no bebê dentro do útero, ver o sexo, saber se havia este ou aquele problema. Em compensação, elas eram ensinadas a cuidar do bebê no útero com muita responsabilidade, orientadas a temer comidas estranhas, bebidas fortes, viagens longas. A gravidez era um mistério e o melhor de todos os remédios era a prevenção, o resguardo, atitudes que praticamente obrigavam a mulher a entrar em contato com seu estado. O medo do parto era coisa séria; se houvesse algum problema teria de ser enfrentado com determinação, respiração e coragem. O melhor remédio para evitar transtornos continuava sendo um cuidado cheio de responsabilidade durante os nove meses.

Nossos tempos modernos, em que até mesmo é possível fazer cirurgias intra-uterinas, trouxeram muitas vantagens, alívio, mas também alguma leviandade, que acaba aproximando os velhos índices de morte por tétano umbilical aos novos índices de mortes por cirurgias desnecessárias, além de um surpreendente aumento de iatrogenias. Os aparatos médicos, a aparente segurança de que tudo pode ser consertado em caso de problemas, acaba levando a grávida a tomar atitudes irresponsáveis, como comer alimentos modificados, com corantes e conservantes, passar horas na mesma posição, pouco ligada, enfim, nas novas condições de seu corpo, já que pode espionar o que está acontecendo dentro do útero, já que fantasia ter um certo poder sobre o que acontece com ela, de fora para dentro. O resultado dessas atitudes não se resume a possíveis problemas na hora do parto por falta de contato profundo conosco. Podem ser mais graves, infelizmente. Ainda bem que minha mãe, que não é nenhuma santa, tem mais medo das coisas que vêm de fora do que das coisas que vêm de dentro!

Para resumir essa história de comidas, ancestralzinha ou uma boa cozinheira, que não precisa ser a mãe da gente, é bom lembrar que apesar de nem todos os acontecimentos se encerrarem na barriga e no parto, todos começam aqui.

*Texto do livro Bebês de Mamães mais que Perfeitas- Centauro Editora- pg 20

2 comentários:

  1. entrar neste portal é sempre um regalo!

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  2. Adorei esse texto!
    Essa "ancestralzinha", no sentido de nos levar ao nosso eu interno, Para mim tem o nome de natureza!
    E como estão polarizadamente inversas as necessidades criadas pela 'civilização' e os pedidos de nossa natureza!
    Adorei conhecer o blog!

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