Por Cláudia Rodrigues
Talvez pudéssemos continuar e em vez de travar na paradinha do nascimento de todas as coisas vivas, perceber como e o que fazemos com as coisas vivas que nos circundam depois que nascem. Não se trataria obviamente de termos piedade de comer uma alface, nem de cometer a insanidade de eliminar o parto hospitalar da face da Terra.
A palavra ecologia, nem bem compreendida e praticada está,
já sofre desgaste de tanto mau uso: ecopark, ecosport, ecospa, ecoempreendimento,tecnoeco. Rapidamente, em pouco mais de 50 anos, muito se falou nela e em nome dela. Foi
facilitada, resumida, aplicada a fins que desafiam sua origem, sua grandeza e a
real necessidade de colocarmos em prática o pensamento ecológico, que é simples,
mas dá trabalho e exige mudanças profundas em nossos hábitos cotidianos.
Para entendê-la melhor depois desse "novo conceito" em ecologia, talvez pudéssemos começar pelo nascimento de todas as coisas
vivas.
Da ervinha que brota em nosso quintal e que erradicamos antes de saber o que é e para que serve, aos nascimentos de nossos filhos, que costumamos entregar sem piedade à linha de montagem hospitalar, sem questionar o que há de bom e seguro em ser tão mal tratado naqueles primeiros momentos de vida.
Da ervinha que brota em nosso quintal e que erradicamos antes de saber o que é e para que serve, aos nascimentos de nossos filhos, que costumamos entregar sem piedade à linha de montagem hospitalar, sem questionar o que há de bom e seguro em ser tão mal tratado naqueles primeiros momentos de vida.
Talvez pudéssemos continuar e em vez de travar na paradinha do nascimento de todas as coisas vivas, perceber como e o que fazemos com as coisas vivas que nos circundam depois que nascem. Não se trataria obviamente de termos piedade de comer uma alface, nem de cometer a insanidade de eliminar o parto hospitalar da face da Terra.
O que pega na difícil tarefa de compreender e praticar
ecologias, é a resistência, o conservadorismo, a imobilidade e pior do que
isso, a imitação barata do que seria afinal uma mobilidade, uma naturalidade diante
daquilo que é vivo. É tão constrangedor para nosso bem-estar civilizado a
natureza das coisas vivas, que atraiçoamos a ideia com produções esdrúxulas, numa
espécie de autoenganação sob todas as formas, em todos os meios de consumo. Da comida perfeitamente mortinha que oferecemos aos nossos bebês, aos filmes violentos, passando por novelas para
crianças, repletas de propagandas, escolhemos ou ao menos nos submetemos a
viver em uma sociedade absolutamente antiecológica, que trabalha em velocidade
crítica contra as práticas ecológicas.
Nas escolas, nas ruas, nas mídias sociais, o que não faltam
são propagandas pró-ecologia, mas o que se vê praticamente é uma pré-história
do que um dia talvez venha a ser o projeto de uma vida autossustentável. É tudo
fake, para parecer que é, um verniz sobre. Para completar, os poucos que se
lançam a fazer diferente, sofrem com olhares de desdém. Não que se importem
essas novas criaturas com o bullying diário; o lamento deles é pelo tempo
desperdiçado, pela visão que têm do quanto ainda precisa ser feito.
O famoso termo pejorativo “ecochato” nunca é utilizado para
a indústria do ecosuco de caixinha, mas para as pessoas que primam pelo suco
natural. Os “radicais” não são os empreendedores das “ecoempresas” que destroem
florestas inteiras, mexem em ecossistemas delicadíssimos para depois assumirem
um “compromisso ambiental”, que muitas vezes é apenas dinheiro e um jardinzinho
mequetrefe tratado a NPK.
Na pré-história da ecologia, primamos pela tecnocracia e
consumismos de todas as estirpes, para todos os gostos. Moradia, saúde, educação,
segurança, entretenimento, agricultura, alimentação, esportes, transportes e
até mesmo no mais fugaz de nossos interesses, o vestuário, somos veementemente
antiecológicos. É chique ser antiecológico, o suprassumo do que se chama
sucesso é a exibição do consumo. Compra-se de títulos a valores, tudo está à
venda.
Conseguimos o inimaginável para além de domar a vida que se
inicia, de trata-la mal em seu processo; negamo-nos a aceitar a morte de nossos
entes queridos, preferimos vê-los entubados, chapados, queimados vivos com
tratamentos incipientes e dolorosos aos 90, 100 anos de idade. Tudo porque nada
pode ser vivo naturalmente, o importante é parecer qualquer coisa que se encaixe
nesse caos de ignorância coletiva.
E não vamos falar de amor, essa palavra ecológica por
natureza.
Oi, Claudia! Não há palavras para demonstrar o quanto aprendi desde que passei a ler blogs. Da mudança de pensamentos, vou passando à ação, primeiro em casa, depois na comunidade. Olha que não faço muita coisa, mudei pouco em relação a uns muitos bem mais engajados do que eu, e já sofro o tal estigma. Por isso é bom ler textos assim. Não me canso de repetir que são como incentivo e alento.
ResponderExcluirBeijos,
Nine