Para Cássia Eller, Francisco Alfaya e Lau Baptista, que voaram pela vida sem temer a morte
Cláudia Rodrigues, 11 de dezembro de 2017.
Nosso medo da morte produz comportamentos bem estranhos.
Medo de ser, arriscar, contestar, andar sob a própria batuta; assim vamos, em
menor ou maior intensidade. Costumamos confiar nossas vidas aos medos de nossos
pais. Começamos mal nessa relação, começamos mais na morte do que na vida.
O primeiro pulo e alguém grita: cuidado!
Volta aqui, vai se afogar!
Vai cair!
A cada prazer um aviso de morte.
Assim que se você teve um pai e uma mãe que não te colocaram tanto medo de viver, parabéns, você começou bem a sua trilha de vida, que vai acabar em morte, inexoravelmente.
Faça ioga, se quiser. E não beba e se exercite, faça os exames que bem entender, filie-se ao convênio que achar melhor, use argumentos do tipo “não quero envelhecer mal e adoecer, dar trabalho para os outros”, use a desculpa que quiser, mas nunca, jamais, diga que alguém morreu porque não se cuidou ou porque teve uma vida devassa, porque não soube ter sucesso financeiro, porque fez sexo demais, porque não ganhou estrelinhas de bom comportamento da professora, como você.
Não diga que alguém morreu porque bebeu demais, fumou demais, desrespeitou regras demais, comeu demais, amou demais, viveu demais.
Se é demais para você viver assim, morrer assim, então apenas viva o seu jeito de morrer porque todos nós temos um jeito de morrer, uma hora que escolhemos secretamente, internamente e ela tem tudo a ver com o jeito que vivemos. Se é melhor morrer aos 60 do que aos 80, aos 10 ou aos 50, essa é uma coisa que seu corpo decide com você secretamente e tanto faz em que lugar da estatística você ficou.
Aliás, expectativa de vida como um dado estatístico deveria servir para nos acalmar enquanto vivemos bem o bastante, ela é uma realidade tão palpável quanto os pontos fora da curva. Não tem lugar seguro, “para morrer basta estar vivo”.
Quando alguma estatística serve para enervar a pessoa em prevenções num desespero coletivo de exames que confirmem saúde perfeita está bem também, assim como devemos respeitar quem escolhe só se observar e deixar acontecer, secretamente.
O seu joelho pode ranger e você lidar com isso por 30 anos até morrer de uma topada na esquina sem nem sentir dor no joelho, bem antes de procurar um médico especialista em joelho e pronto. Isso pode parecer uma insanidade para quem gosta de monitorar o corpo pelo menos uma vez por ano, mas existe, é fato, pessoas assim existem e elas têm direito de viver e morrer do seu jeito, sem tanto medo da morte.
O medo da morte pode nos fazer monitorar a vida, isso está bem, mas cada um monitore a sua. A vida dos outros e a morte dos outros não nos diz respeito nesse sentido. A única coisa que temos direito é sofrer do nosso jeito, bem quietinhos, a tristeza de não poder mais ver alguém, ouvir alguém, estar com alguém que amamos. Sem julgamentos.
Que fiquem bem os que fazem força para não envelhecer e retardar a morte, benditos sejam, que consigam adiar se assim acreditam e podem. Benditas sejam também todas as pessoas que nascem voando e voam rumo ao fim, dando à vida a oportunidade de encontrar seu fim livremente.
O primeiro pulo e alguém grita: cuidado!
Volta aqui, vai se afogar!
Vai cair!
A cada prazer um aviso de morte.
Assim que se você teve um pai e uma mãe que não te colocaram tanto medo de viver, parabéns, você começou bem a sua trilha de vida, que vai acabar em morte, inexoravelmente.
Faça ioga, se quiser. E não beba e se exercite, faça os exames que bem entender, filie-se ao convênio que achar melhor, use argumentos do tipo “não quero envelhecer mal e adoecer, dar trabalho para os outros”, use a desculpa que quiser, mas nunca, jamais, diga que alguém morreu porque não se cuidou ou porque teve uma vida devassa, porque não soube ter sucesso financeiro, porque fez sexo demais, porque não ganhou estrelinhas de bom comportamento da professora, como você.
Não diga que alguém morreu porque bebeu demais, fumou demais, desrespeitou regras demais, comeu demais, amou demais, viveu demais.
Se é demais para você viver assim, morrer assim, então apenas viva o seu jeito de morrer porque todos nós temos um jeito de morrer, uma hora que escolhemos secretamente, internamente e ela tem tudo a ver com o jeito que vivemos. Se é melhor morrer aos 60 do que aos 80, aos 10 ou aos 50, essa é uma coisa que seu corpo decide com você secretamente e tanto faz em que lugar da estatística você ficou.
Aliás, expectativa de vida como um dado estatístico deveria servir para nos acalmar enquanto vivemos bem o bastante, ela é uma realidade tão palpável quanto os pontos fora da curva. Não tem lugar seguro, “para morrer basta estar vivo”.
Quando alguma estatística serve para enervar a pessoa em prevenções num desespero coletivo de exames que confirmem saúde perfeita está bem também, assim como devemos respeitar quem escolhe só se observar e deixar acontecer, secretamente.
O seu joelho pode ranger e você lidar com isso por 30 anos até morrer de uma topada na esquina sem nem sentir dor no joelho, bem antes de procurar um médico especialista em joelho e pronto. Isso pode parecer uma insanidade para quem gosta de monitorar o corpo pelo menos uma vez por ano, mas existe, é fato, pessoas assim existem e elas têm direito de viver e morrer do seu jeito, sem tanto medo da morte.
O medo da morte pode nos fazer monitorar a vida, isso está bem, mas cada um monitore a sua. A vida dos outros e a morte dos outros não nos diz respeito nesse sentido. A única coisa que temos direito é sofrer do nosso jeito, bem quietinhos, a tristeza de não poder mais ver alguém, ouvir alguém, estar com alguém que amamos. Sem julgamentos.
Que fiquem bem os que fazem força para não envelhecer e retardar a morte, benditos sejam, que consigam adiar se assim acreditam e podem. Benditas sejam também todas as pessoas que nascem voando e voam rumo ao fim, dando à vida a oportunidade de encontrar seu fim livremente.
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