Meu nome é Talita, tenho sete anos e hoje completei três semanas no curso de artes. Adoro pintar, desenhar e é muito bom lá no atelier. Adorei esse nome: ateliê. O atelier tem cheiro de atelier. A professora é toda paciência e habilidades. A roupa de dar aula que ela usa é toda manchada, mas ela é bonita, elegante e a roupa fica linda assim, manchada.
Quando cheguei em casa, depois do primeiro dia de aula, percebi que havia ficado uma pequena mancha de tinta no meu vestido azul. Adorei a mancha e fiquei imaginando que precisaria frequentar muitas aulas para que ele ficasse tão manchado como o da minha professora. Ela é artista plástica. Já mostrou seus trabalhos até na Europa e em um monte de lugares no Brasil.
Mas ela não é aquele tipo de artista de televisão, que aparece em todos os lugares. É uma artista conhecida só por pessoas que gostam de arte. Como eu. Bem, mas o fato é que para minha sorte, o vestido voltou limpo lá do tanque da Glorinha, mas com a mancha. Mal pude esperar pela segunda aula. Fiz um rabo de cavalo e coloquei meu vestido de artes. A aula estava tão boa que esqueci da mancha e do vestido. Trabalhamos com cerâmica e a minha pintura ficou realmente bonita. Usei tons de azul e misturei marrom com vermelho. A professora disse que era tom terra. Adoro tons terra. Na terceira aula minha mãe começou a encrencar com meu vestido. Primeiro veio toda docinha perguntar por que eu estava indo sempre com a mesma roupa na aula de artes. Fiquei calada, com vergonha de contar sobre as manchas que eu estava tentando colecionar. Até coloquei a mão para esconder a primeira das muitas manchas que eu pretendo carimbar nele.
De repente bateu um medo da minha mãe querer torrar o vestido, justamente por causa da mancha. É que as mães querem o melhor para suas filhas, querem vê-las sempre bonitas, gostam quando as pessoas nos reparam. Mas às vezes, nós, filhas, pensamos diferente sobre o que é ou não bonito. Já consegui ir a todas as aulas com meu vestido de artes, mas hoje de manhã mamãe perdeu a cabeça. Disse que eu estava horrível. Me senti péssima, tive vontade de chorar, mas depois entendi melhor quando ela se desculpou por tanta raiva me explicando que tenho várias roupas e que ela não entende porque insisto em ir sempre para a aula de artes com o mesmo vestido.
Ela até fez uma chantagenzinha dizendo que trabalha tanto para comprar roupas para mim e eu nem uso. Pôxa, ela pegou pesado, mas também, coitada, não entende nada de artes e nem percebe que a professora usa sempre a mesma roupa. Bem, tenho até que me contentar. Pior é a mãe da Lu que leva um avental de plástico para embalsamar a garota. Coitada da Lu, fica parecendo uma astronauta e sem a menor chance de arranjar umas manchinhas. Esses dias vi minha mãe conversando com a mãe da Lu e senti um frio na barriga. Fiquei gelada por achar que ela poderia estar sugerindo a idéia do avental astronáutico, como medida de segurança máxima antimanchas.
Felizmente minha mãe não tocou no assunto, mas se ela inventasse essa moda eu iria até abrir o jogo e contar sobre a beleza das manchas coloridas. Não sei por que não consigo abrir o jogo com mamãe. Acho que é uma coisa de identidade, ser eu mesma, ter segredos, essa parceria com as artes plásticas como uma coisa minha. Só queria que minha mãe fosse a fã, mais nada. Estou cansada de ser fã dela. Afinal, tenho sete anos e uma vontade incrível de ser eu mesma, o mais que possa, para o resto dessa vida inteira que tenho pela frente.
Mas ela não é aquele tipo de artista de televisão, que aparece em todos os lugares. É uma artista conhecida só por pessoas que gostam de arte. Como eu. Bem, mas o fato é que para minha sorte, o vestido voltou limpo lá do tanque da Glorinha, mas com a mancha. Mal pude esperar pela segunda aula. Fiz um rabo de cavalo e coloquei meu vestido de artes. A aula estava tão boa que esqueci da mancha e do vestido. Trabalhamos com cerâmica e a minha pintura ficou realmente bonita. Usei tons de azul e misturei marrom com vermelho. A professora disse que era tom terra. Adoro tons terra. Na terceira aula minha mãe começou a encrencar com meu vestido. Primeiro veio toda docinha perguntar por que eu estava indo sempre com a mesma roupa na aula de artes. Fiquei calada, com vergonha de contar sobre as manchas que eu estava tentando colecionar. Até coloquei a mão para esconder a primeira das muitas manchas que eu pretendo carimbar nele.
De repente bateu um medo da minha mãe querer torrar o vestido, justamente por causa da mancha. É que as mães querem o melhor para suas filhas, querem vê-las sempre bonitas, gostam quando as pessoas nos reparam. Mas às vezes, nós, filhas, pensamos diferente sobre o que é ou não bonito. Já consegui ir a todas as aulas com meu vestido de artes, mas hoje de manhã mamãe perdeu a cabeça. Disse que eu estava horrível. Me senti péssima, tive vontade de chorar, mas depois entendi melhor quando ela se desculpou por tanta raiva me explicando que tenho várias roupas e que ela não entende porque insisto em ir sempre para a aula de artes com o mesmo vestido.
Ela até fez uma chantagenzinha dizendo que trabalha tanto para comprar roupas para mim e eu nem uso. Pôxa, ela pegou pesado, mas também, coitada, não entende nada de artes e nem percebe que a professora usa sempre a mesma roupa. Bem, tenho até que me contentar. Pior é a mãe da Lu que leva um avental de plástico para embalsamar a garota. Coitada da Lu, fica parecendo uma astronauta e sem a menor chance de arranjar umas manchinhas. Esses dias vi minha mãe conversando com a mãe da Lu e senti um frio na barriga. Fiquei gelada por achar que ela poderia estar sugerindo a idéia do avental astronáutico, como medida de segurança máxima antimanchas.
Felizmente minha mãe não tocou no assunto, mas se ela inventasse essa moda eu iria até abrir o jogo e contar sobre a beleza das manchas coloridas. Não sei por que não consigo abrir o jogo com mamãe. Acho que é uma coisa de identidade, ser eu mesma, ter segredos, essa parceria com as artes plásticas como uma coisa minha. Só queria que minha mãe fosse a fã, mais nada. Estou cansada de ser fã dela. Afinal, tenho sete anos e uma vontade incrível de ser eu mesma, o mais que possa, para o resto dessa vida inteira que tenho pela frente.
Parabéns Claudia! Bem vinda a globosfera... nada como este espaço infinito para divulgarmos palavras em que acreditamos
ResponderExcluirsucesso
Sua empatia é inacreditável!
ResponderExcluirQue maravilha, delicado, verdadeiro, doce...amo!
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