Por Cláudia Rodrigues
1535. Alta, esguia, musculosa, a morena Tuinaé e sua única filha Senaqué, de 7 anos, haviam acabado de abater com a lança, um peixe. A manhã estava bonita e fria, já fazia mais de dois meses que caminhavam pelas margens do rio Uruguai, escondendo-se na mata do pior dos predadores locais: o homem espanhol que havia matado o chefe da família, Tacuavé. A cavalo, montadas em pelo, partiram a galope sem tempo de lamentar a morte de Tacuavé. Dormiam abraçadas, sem choro e sem fogo, mandavam que o Sol nascesse já montadas nos cavalos. Foram dois meses sem carne, só com frutas e ervas. Enquanto Tuinaé ajeitava a carne do primeiro pescado em dois meses, Senaqué pôs-se a pintar nas pedras, com as mãos molhadas de água e gordura do peixe. Era também a primeira vez que sorriam depois de 60 dias, a primeira vez que relaxavam verdadeiramente no meio do silêncio imperioso da manhã. Sentiam-se estranhamente salvas. O plano era não chegarem famintas de carne a uma nova tribo, já próxima, que iria recebê-las em mais um dia de viagem. Não deu tempo, foram surpreendidas pela chegada do espanhol. Rapidamente pegaram suas lanças e meteram-se na água até as coxas, encarando-o ainda a uma boa distância, num ritual desconhecido pelo homem branco. A menina Senaqué usou sua pequena lança primeiro, conforme o combinado. Quase conseguiu de um golpe só, enfiando-a por pouco mais de 5 cm para dentro da barriga. Tuinaé cumprimentou a filha pelo feito e rapidamente completou o serviço com um golpe rápido e preciso, libertando a menina, que sumiu nas águas. O espanhol já havia apeado do cavalo. Espantado com a cena, sacou o cantil, deu um gole, limpou a barba com as costas da mão, pensou que assim, sem a menina, seria ainda melhor e começou a caminhar em direção a Tuinaé, mas não chegou a tocá-la. Tuinaé pegou sua grande lança, enfiou-a profundamente no lado esquerdo do ventre e rasgou-o de um lado ao outro, encarando o homem com extremada satisfação. Ainda teve tempo de voltar a cabeça para trás e mirar a correnteza que levara a menina, antes de jogar-se nas profundezas do rio Uruguai.
1535. Alta, esguia, musculosa, a morena Tuinaé e sua única filha Senaqué, de 7 anos, haviam acabado de abater com a lança, um peixe. A manhã estava bonita e fria, já fazia mais de dois meses que caminhavam pelas margens do rio Uruguai, escondendo-se na mata do pior dos predadores locais: o homem espanhol que havia matado o chefe da família, Tacuavé. A cavalo, montadas em pelo, partiram a galope sem tempo de lamentar a morte de Tacuavé. Dormiam abraçadas, sem choro e sem fogo, mandavam que o Sol nascesse já montadas nos cavalos. Foram dois meses sem carne, só com frutas e ervas. Enquanto Tuinaé ajeitava a carne do primeiro pescado em dois meses, Senaqué pôs-se a pintar nas pedras, com as mãos molhadas de água e gordura do peixe. Era também a primeira vez que sorriam depois de 60 dias, a primeira vez que relaxavam verdadeiramente no meio do silêncio imperioso da manhã. Sentiam-se estranhamente salvas. O plano era não chegarem famintas de carne a uma nova tribo, já próxima, que iria recebê-las em mais um dia de viagem. Não deu tempo, foram surpreendidas pela chegada do espanhol. Rapidamente pegaram suas lanças e meteram-se na água até as coxas, encarando-o ainda a uma boa distância, num ritual desconhecido pelo homem branco. A menina Senaqué usou sua pequena lança primeiro, conforme o combinado. Quase conseguiu de um golpe só, enfiando-a por pouco mais de 5
Prezada Claudia,tive contato com o teu blog atraves do Sul21, e da materia sobre os efeitos do fluor.Gostaria de uma cópia.Tambem fiquei chocado com o texto das indias charruas. Nao q nao fosse verossimel.Apenas forte,chocante.
ResponderExcluirAtenciosamente
Luiz Patricio Salgueiro
email: pat.salgueiro@bol.com.br
Que lindo texto! Minha avó contava que era neta de uma índia charrua. Sempre quis saber mais sobre os charruas, esse povo que nunca aceitou a cultura do invasor.
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