domingo, 3 de janeiro de 2016

A beleza violenta das bombas

Cláudia Rodrigues

Estive inspiradíssima para escrever sobre o efeito das bombas nas pessoas e animais, especialmente durante o dia, quando não produzem belas imagens, mas aí na tarde do dia 31, sentada na rede, ouvi argumentos da minha sobrinha Isis, de apenas 13 anos, e ponderei esse primeiro impulso, quando, diante do sofrimento dos cães mais próximos, Bob e Serena, exclamei: "Bá, mas que gente sem noção são todos uns &¨%$#, ficar assim do nada dando susto na bicharada, fazendo nossos corações dispararem de susto!" A menina, muito sensata, fez um belo discurso: "tia Cláudia, não podemos julgar as pessoas só por isso, podem ser boas pessoas que ainda não pensaram sobre o assunto, mas não quer dizer que sejam todas más, não se pode generalizar".
Tirei o chapéu para ela, me acalmei até que nova bomba, do nada, explodiu e então falei: Isis, tu estás coberta de razão, vou tentar não fazer um texto generalizado contra as bombas, mas vou ter que fazer, olha só os passarinhos, os gatos, os bichos todos sofrem muito, os bebês nem tem ouvidos bons o bastante para aguentar isso...Olha ali aquela casa, cheia de crianças e aí aquele homem, entre uma cerveja e outra, resolve se divertir soltando um rojão no meio da tarde."

Então chego aqui e vejo tantas fotos de gentes felizes e queridas em meio aos espetáculos pirotécnicos. Perdi a inspiração, fiquei me sentindo a azeitona da empada. Lembrei de quando fui assistir os fogos em Copacabana, das várias viradas de ano na saudosa praia de Manguinhos-ES, quando colaborávamos com o associação de moradores e pescadores para ter um um belo espetáculo pirotécnico, as barraquinhas todas enfeitadas com tochas iluminando a noite, das bombinhas da infância nos anos 1970. É, não dá para generalizar. Esse é o texto que resolvi não escrever.
Mas não desisti de pesquisar sobre.
É mais trash do que eu pensava, bem mais.
Coisas que descobri na breve pesquisa.

1-A poluição sonora pode ultrapassar 120dB. O ser humano tem um sobressalto natural no corpo semelhante ao stress visível nos outros mamíferos, mas temos o poder de acionar o cérebro e compreender que não é guerra ou um ataque mortal. Apesar da compreensão cortical produzimos rapidamente cortisol e adrenalina desnecessários, o que causa stress e estados de humor alterados.

2-As cores dos fogos de artifício são resultado da queima de sais de metais como o bário, o magnésio, o cálcio e do nitrato de estrôncio que, além do gás carbônico, produzem poluição na atmosfera provocando prejuízos à saúde.

3-Uma noite de fogos de artifício em Londres polui mais do que uma incineradora durante um ano.

4-Compostos de cobre são usados para produzir os tons azulados que contêm dioxinas, associadas ao câncer. Cádmio, lítio, antimônio, rubídio, estrôncio, chumbo e nitrato de potássio também são usados para produzir efeitos visuais bonitos e respiratórios graves.

5- Estatísticas de organizações não governamentais demonstram que é durante os espetáculos pirotécnicos que ocorre o maior número de fugas, mortes e atropelamentos de animais. Entre os seres humanos, os mais suscetíveis à morte súbita são os cardíacos, mas sentem mais os deprimidos e os que sofrem de transtornos mentais pela impossibilidade de acionarem seus cérebros corticais com eficiência.

6- O material utilizado para fazer os fogos não é seguro para reciclagem devido as substâncias tóxicas pois o manuseio pode ser danoso a saúde, além do risco de partes não acionadas do explosivo, virem a explodir durante a reciclagem. Por isso varias empresas recicladoras não recebem fogos de artifício.

7- Animais em geral podem ter problemas cardiológicos, reprodutivos e migratórios. Sabe-se que os sabiás podem parar de cantar por até 3 dias após uma festividade com fogos de artifício.

8- As ondas sonoras influem ainda na vida aquática, em peixes de água doce e salgada, além disso contamina mananciais.

9- A diversão é intimamente ligada à indústria bélica, extremamente dispendiosa, diverte por poucos minutos e rende danos duradouros e cumulativos.

10- Dizem que rodas de violão e conversas ao pé do fogo primário, possibilitam que bebês e animais continuem seu ciclo natural de sono e entre adultos, quem sabe, relações mais delicadas e amorosas com a própria natureza.

A beleza violenta das bombas está no ar.

Um comentário:

  1. Também estive em shows pirotécnicos achando tudo bonito... até ter um cachorro que quase se matava a cada ocasião dessas que os rojões sempre fazem parte... até ter um bebê que chorava a cda bomba e um familiar que dizia que ele teria que se acostumar... e agora descubro que é muito pior do que eu pensava.

    ResponderExcluir