sábado, 29 de março de 2014

A Guerra dos Panos





Cláudia Rodrigues


A culpa era da saia, comprida demais com um babadinho provocante, deixava aparecer os delicados tornozelos. Não importava quantas anáguas a sustentavam, nem a dura armação do mais firme arame que até espetava, nada disso importava, era mais forte do que eles o impulso de erguer a saia, rasgar a blusa, acabar com a festa da candura.

Era curiosidade em excesso, elas precisavam liberar mais para que as desconhecidas curvas viessem a público e então eles, quem sabe, aprenderiam a se controlar.

Subiram as saias de todas elas, das sinhazinhas e de suas aias. Moldaram-se as blusas aos seios, que viraram o foco. Agora eles queriam rever o leite perdido, era muita curiosidade, uma verdadeira crueldade. Mas eles não pararam de fuçar, olhar, uivar e em caso de recusa, violar.

Um dia elas se encheram de tudo aquilo e queimaram os sutiãs na praça, agora não queriam mais saber, se fossem gente de verdade, haveriam de parar, já possuíam tudo livre aos olhos, o que mais haveria de faltar?

Eles não pararam, já não havia pano algum para cortar. Foi assim que começou a história do aumento de panos outra vez. E ficaram a discutir os panos e culpas delas por tantos panos, por menos panos, por panos ao meio.

Porque eles eram os mocinhos e elas as bandidas e isso já estava decidido desde o princípio da Guerra dos Panos.

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