Cláudia Rodrigues
Ainda hoje em alguns nichos culturais as fantasias das crianças são consideradas mentiras. Isso é muito triste, as fantasias infantis têm muitas funções para o desenvolvimento durante a infância. É por meio das fantasias que a criança pensa o mundo, desenvolve raciocínios, faz reflexões e principalmente se auto-regula, processa sofrimentos inerentes à vida, desde pequenas frustrações cotidianas até coisas mais complexas como morte de animais domésticos ou de pessoas da família.
A imaginação das crianças foi tema de estudo de grandes pensadores do comportamento infantil e suas funções são tantas e tão fascinantes que a interpretação desses estudos dentro do caldo cultural e comercial, acaba muitas vezes produzindo uma inversão de valores e as crianças em vez de simplesmente expressarem suas fantasias livremente, são manipuladas por fantasias vindas dos adultos para fins confortáveis e úteis para os adultos, universo dos adultos. É o caso do Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente, todas essas fantasias criadas pelos adultos com fins muito específicos de mexer e manipular a facilidade com que as crianças entram no universo fantástico de crenças.
Ok, bom separar, isso tudo pode existir, cada família escolhe o que deseja promover, mas nenhum desses exemplos é expressão de fantasia infantil. São crenças que manipulam a tendência natural da criança de fantasiar. É preciso compreender bem isso, não necessariamente para boicotar as crenças fantasiosas ou extirpar as lendas e contos de fada da vida das crianças, mas para não ir ao extremo de engambelar as crianças. Ou pior: usufruir com muita solenidade, apropriar-nos de um espaço privado da criança, tecer com nossas mãos o seu tecido de sonhos, invadindo-o com nossas crenças e a nosso favor.
Ainda hoje em alguns nichos culturais as fantasias das crianças são consideradas mentiras. Isso é muito triste, as fantasias infantis têm muitas funções para o desenvolvimento durante a infância. É por meio das fantasias que a criança pensa o mundo, desenvolve raciocínios, faz reflexões e principalmente se auto-regula, processa sofrimentos inerentes à vida, desde pequenas frustrações cotidianas até coisas mais complexas como morte de animais domésticos ou de pessoas da família.
A imaginação das crianças foi tema de estudo de grandes pensadores do comportamento infantil e suas funções são tantas e tão fascinantes que a interpretação desses estudos dentro do caldo cultural e comercial, acaba muitas vezes produzindo uma inversão de valores e as crianças em vez de simplesmente expressarem suas fantasias livremente, são manipuladas por fantasias vindas dos adultos para fins confortáveis e úteis para os adultos, universo dos adultos. É o caso do Papai Noel, Coelho da Páscoa, Fada do Dente, todas essas fantasias criadas pelos adultos com fins muito específicos de mexer e manipular a facilidade com que as crianças entram no universo fantástico de crenças.
Ok, bom separar, isso tudo pode existir, cada família escolhe o que deseja promover, mas nenhum desses exemplos é expressão de fantasia infantil. São crenças que manipulam a tendência natural da criança de fantasiar. É preciso compreender bem isso, não necessariamente para boicotar as crenças fantasiosas ou extirpar as lendas e contos de fada da vida das crianças, mas para não ir ao extremo de engambelar as crianças. Ou pior: usufruir com muita solenidade, apropriar-nos de um espaço privado da criança, tecer com nossas mãos o seu tecido de sonhos, invadindo-o com nossas crenças e a nosso favor.
Adultos, ao longo da história, sempre acharam jeitos de
divertirem-se às custas das crianças, iludindo-as, explorando a imaginação fértil
dos pequenos, tanto com ameaças de homem do saco, bicho papão, quanto com fadas
e duendes. É importante questionar o que se faz em nome da imaginação infantil
e até que ponto a manipulação dessa característica, dominada pelos adultos, usa
a criança para assustá-la, submetê-la ou ser boazinha, para prolongar sua inocência,
para impedir que ela questione o mundo naturalmente, a partir de suas próprias
fantasias e pensamentos. Fantasias manipuladas para serem só lindinhas é pura sacanagem e doutrinação. Crianças imaginam coisas lindinhas, engraçadas, impossíveis e ruins, feias, tenebrosas. Assim que o homem do saco criado pelos adultos é diretamente proporcional ao duende que dá biscoitos do saco do homem do supermercado.
Fantasia infantil é quando um menino de 4 anos acorda, olha para as árvores que balançam ao vento e diz: olha papai, hoje as árvores estão fazendo muito vento. O pai sorri, entende que isso é uma fantasia, no universo fantástico do pensamento infantil, são as árvores, seres vivos, que balançam e provocam o vento e não o contrário. O pia pode apenas ouvir, receber a fantasia, pode utilizar a doce ideia para pensar em fabricar uma pipa e observar como o pensamento do menino evolui, afinal um dia ele vai estudar física. Pode também pirar na batatinha e sair com o guri pela mão divertindo às custas da inocência do moleque, rindo solitário, bem adulto e fazendo provocação, contando a todos que a criança vê as árvores produzindo vento, mexendo-se doidas como se fossem seres humanos.
Fantasia infantil é quando um menino de 4 anos acorda, olha para as árvores que balançam ao vento e diz: olha papai, hoje as árvores estão fazendo muito vento. O pai sorri, entende que isso é uma fantasia, no universo fantástico do pensamento infantil, são as árvores, seres vivos, que balançam e provocam o vento e não o contrário. O pia pode apenas ouvir, receber a fantasia, pode utilizar a doce ideia para pensar em fabricar uma pipa e observar como o pensamento do menino evolui, afinal um dia ele vai estudar física. Pode também pirar na batatinha e sair com o guri pela mão divertindo às custas da inocência do moleque, rindo solitário, bem adulto e fazendo provocação, contando a todos que a criança vê as árvores produzindo vento, mexendo-se doidas como se fossem seres humanos.
Fantasia infantil é quando a menina de 2 anos, brava com algo que a mãe a
impediu de fazer, solta a pérola: “então, mamãe, uma vez eu era tão grande e tão
forte que pegava assim pelo seu dedo e girava, girava, girava você até você ir
parar lá do outro lado do fundo do mar.” A mãe pode perguntar e ir além, viajar com a menina, perceber o que foi que causou esse processo, pode só sorrir e escutar, raiva faz parte, direito da criança processar sua raiva por meio da fantasia e pode pisar na jaca e se sentir incompreendida falando "tadinha da mamãe, como você é má"
Fantasia infantil é quando as crianças conversam com objetos, brinquedos, flores, animais e de fato juram que escutam respostas, fantasia infantil é imaginar que um dia, dentro de uma avião, esticando bem o braço para fora, será possível guardar um pedaço de nuvem e levar para seu amigo na escola quando voltar de viagem.
Fantasia infantil é quando as crianças conversam com objetos, brinquedos, flores, animais e de fato juram que escutam respostas, fantasia infantil é imaginar que um dia, dentro de uma avião, esticando bem o braço para fora, será possível guardar um pedaço de nuvem e levar para seu amigo na escola quando voltar de viagem.
É a partir das fantasias que a criança constrói o seu mundo, a sua versão de
mundo dentro de dados de realidade ainda muito abstratos para ela. A criança
que é livre para fantasiar, que tem escuta dentro de casa, que pode perguntar e
receber respostas sinceras dos cuidadores, de acordo com a idade, vai
elaborando suas fantasias de maneira a poder trocar com a realidade e apaixonar-se
pela realidade. Mais vale plantar um pé de bananeira e ver crescer, colocar água
todo dia, entender lentamente o processo de crescimento, florescimento e
frutificação da planta, que demora e acompanha as fantasias-- e que muitas
vezes frustra as primeiras fantasias, como a de ver a banana pronta no dia seguinte
e meses depois ver a banana sem poder ser consumida por longos dias após a
colheita --, do que sair pelo quintal procurando duendes, que jamais encontrará.
A criança é um ser social, um ser político, não deve ser tratada como ignorante, ela pode sim se importar com outras crianças, de outras realidades, ela tem a ganhar em conviver com crianças em tribos de índios, de outras escolas, de outras paragens. Ela pode desde tenra idade pensar e tem o direito de obter respostas que sejam dignificantes para ela, com significados reais. Ela tem o direito de evoluir em suas fantasias, não deveria ser direito dos adultos “prender” as crianças em fantasias que já não condizem com o desenvolvimento infantil da fase em que estão.
A criança é um ser social, um ser político, não deve ser tratada como ignorante, ela pode sim se importar com outras crianças, de outras realidades, ela tem a ganhar em conviver com crianças em tribos de índios, de outras escolas, de outras paragens. Ela pode desde tenra idade pensar e tem o direito de obter respostas que sejam dignificantes para ela, com significados reais. Ela tem o direito de evoluir em suas fantasias, não deveria ser direito dos adultos “prender” as crianças em fantasias que já não condizem com o desenvolvimento infantil da fase em que estão.
Criar crianças em redomas fantásticas para poupá-las do que é “feio” no mundo, envolvendo-as em fantasias de adultos pode ser uma perversão e não um cuidado, pode ser manipulação e não proteção. E isso sim é feio, é malvado, é infantilismo do adulto não querer ver as crianças se desenvolverem livremente.
Assim que, caso o seu filho venha perguntar se o Papai Noel existe, se a Fada do Dente existe, de o Duende vai trazer guloseimas, é sinal de que ele está duvidando disso e ele tem o direito de duvidar, a dúvida é o início do conhecimento e o conhecimento jamais deve ser barrado do universo infantil.
Há uma palavra perfeita para esclarecer as dúvidas das crianças sobre o universo fantástico que os adultos criaram para elas e essa palavra chama-se lenda. É uma bela palavra, não é uma destruidora de fantasias, é uma esclarecedora de fantasias, abre novos horizontes para além do fast food das fábulas.
Não há nada de errado com a lendas, com as histórias, com os contos de fada, eles mexem com o universo imaginativo, levam as crianças a viajar na imaginação, elas mesmas podem criar novas histórias, inventar algum tipo de, quem sabe, Truendes, e assim exercerão a verdadeira liberdade de ser e estar no mundo como sujeitos da própria história, menos pasteurizadas, mais livres das manipulações que tanto divertem os adultos.
Crianças podem ter amigos imaginários, isso é bem comum, faz parte do universo infantil, deve ser aceito com curiosidade, algum interesse, mas não é justo que o adulto ao seu lado veja esse amigo, fale com esse amigo. Se isso acontecer tem outro nome: psicose familiar.
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