Cláudia Rodrigues
Para atenuar a ira equivocada do velho feminismo que vestiu roupinha nova lendo academia feminista conservadora, pulou a parte que deu errado e vai afundar no mesmo erro outra vez, que é ficar batendo na tecla da maternidade inconsciente.
Para atenuar a ira equivocada do velho feminismo que vestiu roupinha nova lendo academia feminista conservadora, pulou a parte que deu errado e vai afundar no mesmo erro outra vez, que é ficar batendo na tecla da maternidade inconsciente.
MATERNIDADE CONSCIENTE: quando entramos nessa, seja por descuido ou escolha e descobrimos que a coisa é séria e exige mais do que reflexão, envolvimento real, conhecimento e entrega para formar mais do que deformar. Faz parte da maternidade consciente a inclusão da paternidade consciente, a divisão igualitária de tarefas domésticas e cuidados com as crianças, assim como a luta por mais direitos políticos e sociais de acordo com as necessidades do desenvolvimento infantil. Na maternidade consciente não há ilusão do que poderia ter sido nossas vidas sem crianças, tendo as crianças sido planejadas ou aceitas acidentalmente. A busca pelo prazer profissional corre paralela à maternidade e às adequações. Não usamos, após nossas escolhas, a função materna como desculpa para eventuais fracassos. A criançada está no pacote, para o bem e para o mal, mas não é o bem ou o mal. Faz parte da maternidade consciente a luta pela descriminalização e/ou legalização do aborto porque uma mãe precisa saber de quantos filhos dá conta.
NÃO-MATERNIDADE CONSCIENTE: quando gostando ou não de crianças, escolhemos não conviver com elas por uma vida inteira como responsáveis, quando escolhemos não ter amigos genéticos, quando nossos objetivos pessoais e/ou profissionais requerem ou desejamos dar a eles nossa intensidade máxima, sem ter que dividir o tempo com a criação, educação e convívio com crianças. Na não-maternidade consciente a mulher pode desfrutar do convívio com sobrinhos,primos alunos e até entender muito sobre educação e deve ser respeitada por isso. Pode também optar por hoteis e passeios que não incluem a presença de crianças e não ser mal vista ou mal falada por isso. A não-maternidade consciente é pouco debatida em nossa sociedade, as mulheres que optam por não ter filhos carregam um fardo social e cultural enorme. Faz parte da não-maternidade consciente a luta pela legalização do aborto, por motivos óbvios.
MATERNIDADE INCONSCIENTE: quando diante da maternidade materializada, nos ressentimos do excesso de tarefas, lamentamos a perda da individualidade que se dará por toda uma vida inexoravelmente. Como a fase fértil da vida da mulher coincide com seus anos de maior vitalidade, força corporal, emocional e mental, as fantasias de superpoder abundam nessa fase. É comum que essa vitalidade não encontre igual coragem para ser canalizada para estudos, viagens e desenvolvimento de habilidades, sendo desviada inconscientemente para a fecundação.
Como ninguém tem realmente superpoder, nem com filhos, nem sem filhos, resta a ilusão de que sem filhos a vida seria mais tudo, a pessoa seria mais power, mais super, mais tudo. E então volta-se ao lamento. Porque quando não se consegue ser super saindo do zero sem filhos, livre e solta, a equação depois disso jamais vai fechar.
Como ninguém tem realmente superpoder, nem com filhos, nem sem filhos, resta a ilusão de que sem filhos a vida seria mais tudo, a pessoa seria mais power, mais super, mais tudo. E então volta-se ao lamento. Porque quando não se consegue ser super saindo do zero sem filhos, livre e solta, a equação depois disso jamais vai fechar.
O que esse lamento traz quando mulheres se unem em torno dele já sabemos: fritação de direitos em relação à maternidade porque o ser humano não busca melhoria de fato para algo que desconsidera.
Faz parte da maternidade inconsciente opiniões diversas e contraditórias sobre direito ao aborto. Culpa, ausência de responsabilidade, ilusão, desilução e pensamento mágico abundam aqui.
Faz parte da maternidade inconsciente opiniões diversas e contraditórias sobre direito ao aborto. Culpa, ausência de responsabilidade, ilusão, desilução e pensamento mágico abundam aqui.
Sair do quadrinho da Maternidade Inconsciente é fundamental para que o frágil braço materno do feminismo tenha força dessa vez, já que a década de 1980 se foi e a Badinter está uma velhinha até mais doce, mas deixa ainda muito a desejar sobre direitos em relação à maternidade e atenção aos das crianças.
Quanto a ser mar de rosas, %$#*¨*+%$ nenhuma nessa vida é, assim que a maternidade não tem a menor obrigação de ser.
Vamos lá pessoal, sair do 5º ano é fundamental.
Primeira tarefa é acolher a não-maternidade consciente aprendendo com as mulheres que optaram por não ser mães, ouvir seus motivos, acompanhar mães em jornadas diárias, tomar conta de bebês. Isso antes de entrar na maternidade, para eventualmente decidir conscientemente que essa não é a sua parada. Decidindo ser, ainda assim apoie essa ideia para outras mulheres. Decidindo não ser, saia do armário e conte suas razões, elas podem iluminar caminhos e eliminar a dor das mães essencialmente culturais, que acabam tendo filhos para cumprir sanha social.
Entrou, caiu na nave mãe, embalou, foi sem querer, foi acidente, foi planejado no esoterismo vendido pela publicidade, ok, então vamos tentar compreender que agora não somos mais o foco de atenção e cuidados de nós mesmas e entre nós. Abriu-se o leque da inclusão. Não é preciso desistir da sua vida, mas aprender a incluir.
A single life já era, acabou. Tudo que seu inconsciente esperneia para aceitar é irreversível. A menos que você coloque a criança para adoção ou a mate, o melhor a fazer é fazer o melhor possível porque a criança é a inocente da história e você o brutus adulto que deve tratar de ser só adulto, amparo e menos o brutus possível. Há muito a fazer pela educação das crianças e o umbigo da mulher agora precisa voltar-se para melhorar a assistência social e política materna.
Primeira tarefa é acolher a não-maternidade consciente aprendendo com as mulheres que optaram por não ser mães, ouvir seus motivos, acompanhar mães em jornadas diárias, tomar conta de bebês. Isso antes de entrar na maternidade, para eventualmente decidir conscientemente que essa não é a sua parada. Decidindo ser, ainda assim apoie essa ideia para outras mulheres. Decidindo não ser, saia do armário e conte suas razões, elas podem iluminar caminhos e eliminar a dor das mães essencialmente culturais, que acabam tendo filhos para cumprir sanha social.
Entrou, caiu na nave mãe, embalou, foi sem querer, foi acidente, foi planejado no esoterismo vendido pela publicidade, ok, então vamos tentar compreender que agora não somos mais o foco de atenção e cuidados de nós mesmas e entre nós. Abriu-se o leque da inclusão. Não é preciso desistir da sua vida, mas aprender a incluir.
A single life já era, acabou. Tudo que seu inconsciente esperneia para aceitar é irreversível. A menos que você coloque a criança para adoção ou a mate, o melhor a fazer é fazer o melhor possível porque a criança é a inocente da história e você o brutus adulto que deve tratar de ser só adulto, amparo e menos o brutus possível. Há muito a fazer pela educação das crianças e o umbigo da mulher agora precisa voltar-se para melhorar a assistência social e política materna.
Legalização do aborto, educação de qualidade, licença-maternidade maior para crianças até dois anos, período integral para as maiores, descriminalização ou legalização do aborto, inclusão dos homens na vida cotidiana da casa com filhos, eliminação do machismo da face da Terra. Enfim, é tanta luta que ficar reclamando sobre o nenê não deixar tempo para você tomar chope com seu marido só revela que você quer sua vida sem filhos de volta. Como isso não vai ser possível e você querendo ou não passou, por azar ou sorte, como preferir, da fase 1 do joguinho, então entre na fase 2 e dê conta, faça bem seus pontos, be happy, baby, você está sendo filmada pela história da sua vida e a continuação dela, seus amigos genéticos ou adotivos.
Assim, se você já está mãe, torne sua maternidade insconsciente em maternidade consciente, até porque vida é só uma e viver reclamando da sua ad eternum é bombardear a sua vida, muito mais do que os ouvidos alheios.
Para as feministas a la Badinter que lançaram a campanha conte seu mimimi de como a maternidade não é facilzinha, meus sinceros votos que revejam a campanha. O contrário do mito a la Gutman, sobre a maternidade ser um paraiso com cocôs que cheiram melão fresco recém partido, não é dar ouvidos a essa multiplicação de mães lamuriosas que amam seus filhos mas odeiam ser mães.
Isso é uso abusivo de sentimentos mal-resolvidos e comuns, aliás primários, que toda mulher passa mais ou menos intensamente, e que, uma vez desabafados assim em rede se fortalecem coletivamente como direito, em vez de serem tratados. Esse direito já houve, sempre houve, esse direito de falar mal do trabalho que gera o cuidado com as crianças sempre esteve presente na rua, na padaria, na porta e dentro das escolas; esse direito que fortalece um certo bem-estar coletivo de adultos contra crianças já nos trouxe e nos traz muitos problemas, entre eles a falta de melhorias aos direitos de desenvolvimento infantil e a um acolhimento político e social do lugar de mulher-mãe escolhido.
É um tiro no pé do feminismo que já ocorreu antes e está a se repetir. Agora em rede.
As dicas de leitura abaixo podem ser um acolhimento consistente para que as mães entendam mais seus processos e lidem melhor pela vida afora.
Achei muito interessante a perspectiva. Somente não entendo porque o caráter tão assertivo do texto, como se uma campanha como essa tivesse um resultado unívoco de fortalecerse o mimimi. Eu acredito que a campanha não teve essa intenção -mas que pode, por outro lado, ter dado lugar a isso parcialmente-, mas sim a intenção de legitimar sensações que muitas vezes são sentidas como individuais. São coisas bem diferentes. Ao se colocar em uma posição de dona da verdade sobre esta campanha, o texto perde forca, acho que é denuncia e não debate. E a Badinter é um doce desde novinha! Mas eu gostei do texto mesmo assim.
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