Cláudia Rodrigues
O direito à sexualidade na adolescência fala de saúde, processos hormonais, sensações novas que desencadeiam novos comportamentos. A avalanche hormonal que começa a tomar conta dos adolescentes por volta dos 12, 13 anos, às vezes um pouco mais tarde, em outros casos mais cedo, promove não somente mudanças corporais, mas corticais, reflexivas.
Funcionamento cerebral e hormônios andam lado a lado e não estão fora disso os sentimentos de inadequação pela perda de uma identidade essencialmente infantil, bem como readequações para seguir em frente com esse novo corpo. Não é uma fase fácil de se viver, mas costuma ser muito invejada pelos adultos em geral. Adolescentes têm corpo de tamanho semelhante ao dos adultos, já vêem o mundo criticamente, mas ainda não são capazes de viverem sozinhos. Têm autonomia, mas não são independentes e isso pode ser muito irritante para adultos.
Faz parte da entrada na adolescência o direito à sexualidade, aos primeiro namoros, primeiras trocas afetivas com conotação sexual consciente. É uma violência quando esse direito natural, espontâneo, hormonal, comportamental desse verdadeiro laboratório próprio de mudanças, desejos e sentidos; é sexualizado por adultos como algo ruim, que causa desconforto social.
Quando um adulto acha que uma adolescente está se exibindo, provocando-o ou provocando outros homens porque ela está desabrochando para a mulher que virá a ser em em cinco anos ou seis anos, ele está sexualizando, deturpando e reprimindo o desenvolvimento natural dessa fase.
Adolescentes, de maneira geral, não estão preparadas para fazer sexo. Essa fase é de experimentação sensual, arrepios, beijos, o "ficar" sem compromisso, o amor platônico, romântico, afinal elas eram crianças ainda "ontem" e a transição não se dá de imediato. É comum que uma menina de 13 anos gesticule sensualmente, em um momento, entre seus amigos e amigas e logo ao chegar em casa corra para arrumar as bonecas, desenhar, fazer exatamente aquilo que fazia aos 10 e que estava acostumada a fazer desde os sete.
Se para mulheres adultas é desgastante e causa nojo ser assediada, escutar palavrões como se fossem elogios, para as adolescentes é um fator de desagregação interna que pode causar transtornos em sua sexualidade em desenvolvimento, tanto quanto no futuro, quando vier a ter uma vida ativa sexualmente.
Adolescentes são crianças crescidas, não são adultos em ponto de bala para a vida sexual. Recentemente com a reivindicação de alunas do Colégio Anchieta pela abolição da proibição do short na escola, se viu, leu e ouviu uma verdadeira avalanche de desconhecimento sobre a fase em que estão.
Palavrões, desqualificações, insinuações de que queriam mostrar o ¨%$#@, que andavam com o short enfiado no &¨#, infelizmente revelaram o que estava e está por trás de regras sobre decência.
A proibição impede em primeiro lugar a identificação conjunta por meio de um traje que é preferência atual, assim como foram os vestidinhos melindrosos da década de 1920, as mini-saias na década de 1960 e as calças saint tropez na década de 1980.
Em 1980 as adolescentes eram criticadas por usar um cabelo sobre o rosto e as calças baixas, com o umbigo de fora. Foram chamadas pejorativamente na época como "cocotas". Claro que havia as que usavam a calça muito baixa e a mini-blusa muito alta, assim como aquelas mais moderadas, mas de uma forma ou de outra elas estavam lá, todas juntas, buscando uma identidade nova, diferente dos vestidos rodados da infância e diferente também dos trajes de suas mães, com ombreiras e calças de cós lá em cima.
Vale ressaltar que as adolescentes praticam através dos tempos um tipo de moda não excludente. Não importa em que zona da cidade habitem ou quanto dinheiro ganham seus pais, elas se vestem de maneira muito semelhante e sempre, em qualquer tempo, elas ousaram colocar partes do corpo para fora como forma de dizer, "olhem para nós, não somos mais crianças, nós estamos virando mulheres."
Adultos saudáveis aceitam adolescentes, acham graça, sorriem ao vê-las aos gritinhos, sabem que não passam de crianças grandes a caminho de maiores responsabilidades. Sabem que elas estão "se sentindo", experimentando não só vestes, mas formas novas de experiências via atitudes. Entendem que o ar sensual é a expressão de suas primeiras sensações em relação a uma sexualidade já bem mais madura do que a infantil, mas ainda bem longe daquela que deveria viver um adulto. O "deveria viver" é proposital porque somente um adulto mal-resolvido com sua sexualidade vê em uma adolescente de shortinho, burca ou nua, uma proposta velada para ato sexual.
Meninas não deveriam corar por sentirem-se bem com seus corpos, por gostarem de sentir suas pernas, seus braços, seus rostos, mas adultos deveriam corar por pensar qualquer coisa sobre sexo com elas. Todas as mulheres em qualquer idade devem ser respeitadas, mas é cruel que as adolescentes sejam as mais visadas na rua e em sites pornográficos.
Buenas, adultos também deveriam se envergonhar por sentirem-se tão incomodados pela surpresa da sexualidade brotando nessa fase a ponto de tomarem atitudes radicais ditando o que elas não deveriam vestir a fim de evitar provocar os homens. Isso é apropriação do corpo das adolescentes em um momento em que as atitudes deveriam ir em caminho contrário, em direção a uma maior autonomia, ao apoio a uma independência maior justamente para que pudessem amadurecer de maneira saudável.
A fase passa, as roupas mudam, mas o que se destrói de auto-estima e construção de identidade pode afetar para sempre a segurança de uma mulher, não somente para escolhas de roupa, esse detalhe, mas em tudo que se refere ao prazer.
Quando o direito ao desenvolvimento natural da sexualidade na adolescência é reprimido em nome de uma sexualização pecaminosa, repleta de regras de decência contra o que se sente, o que se vive, sob a batuta de palavrões, ofensas e baixarias, estamos investindo em uma sociedade doente, que reproduzirá mais pessoas adultas com baixo poder orgástico, com dificuldades de aceitarem o próprio prazer como algo bom.
Pessoas que sofrem isso e não percebem que sofreram, não se tratam, nunca retomam o que ficou para trás, tenderão a repetir esse padrão e é assim que a massa conservadora vem se renovando no mundo. Porque repetir, apesar de ser menos prazeroso, é mais fácil do que se libertar. Porque submeter as novas gerações a sofrimentos vividos é uma forma morbida de sentir prazer por meio do boicote ao prazer do outro. E isso, claro, é simulacro de prazer, não prazer real.
Assim que, se você é adulto ou adulta e anda irritado com a ousadia, a folga, a alegria, o achismo, a prepotência e a petulância de adolescentes, busque um psicólogo ou um terapeuta, se preferir pode até ser um psiquiatra, porque o seu problema com a descoberta do prazer dessa fase só revela que você vem desde a sua adolescência arrastando probleminhas em relação ao seu prazer.
O direito à sexualidade na adolescência fala de saúde, processos hormonais, sensações novas que desencadeiam novos comportamentos. A avalanche hormonal que começa a tomar conta dos adolescentes por volta dos 12, 13 anos, às vezes um pouco mais tarde, em outros casos mais cedo, promove não somente mudanças corporais, mas corticais, reflexivas.
Funcionamento cerebral e hormônios andam lado a lado e não estão fora disso os sentimentos de inadequação pela perda de uma identidade essencialmente infantil, bem como readequações para seguir em frente com esse novo corpo. Não é uma fase fácil de se viver, mas costuma ser muito invejada pelos adultos em geral. Adolescentes têm corpo de tamanho semelhante ao dos adultos, já vêem o mundo criticamente, mas ainda não são capazes de viverem sozinhos. Têm autonomia, mas não são independentes e isso pode ser muito irritante para adultos.
Faz parte da entrada na adolescência o direito à sexualidade, aos primeiro namoros, primeiras trocas afetivas com conotação sexual consciente. É uma violência quando esse direito natural, espontâneo, hormonal, comportamental desse verdadeiro laboratório próprio de mudanças, desejos e sentidos; é sexualizado por adultos como algo ruim, que causa desconforto social.
Quando um adulto acha que uma adolescente está se exibindo, provocando-o ou provocando outros homens porque ela está desabrochando para a mulher que virá a ser em em cinco anos ou seis anos, ele está sexualizando, deturpando e reprimindo o desenvolvimento natural dessa fase.
Adolescentes, de maneira geral, não estão preparadas para fazer sexo. Essa fase é de experimentação sensual, arrepios, beijos, o "ficar" sem compromisso, o amor platônico, romântico, afinal elas eram crianças ainda "ontem" e a transição não se dá de imediato. É comum que uma menina de 13 anos gesticule sensualmente, em um momento, entre seus amigos e amigas e logo ao chegar em casa corra para arrumar as bonecas, desenhar, fazer exatamente aquilo que fazia aos 10 e que estava acostumada a fazer desde os sete.
Se para mulheres adultas é desgastante e causa nojo ser assediada, escutar palavrões como se fossem elogios, para as adolescentes é um fator de desagregação interna que pode causar transtornos em sua sexualidade em desenvolvimento, tanto quanto no futuro, quando vier a ter uma vida ativa sexualmente.
Adolescentes são crianças crescidas, não são adultos em ponto de bala para a vida sexual. Recentemente com a reivindicação de alunas do Colégio Anchieta pela abolição da proibição do short na escola, se viu, leu e ouviu uma verdadeira avalanche de desconhecimento sobre a fase em que estão.
Palavrões, desqualificações, insinuações de que queriam mostrar o ¨%$#@, que andavam com o short enfiado no &¨#, infelizmente revelaram o que estava e está por trás de regras sobre decência.
A proibição impede em primeiro lugar a identificação conjunta por meio de um traje que é preferência atual, assim como foram os vestidinhos melindrosos da década de 1920, as mini-saias na década de 1960 e as calças saint tropez na década de 1980.
Em 1980 as adolescentes eram criticadas por usar um cabelo sobre o rosto e as calças baixas, com o umbigo de fora. Foram chamadas pejorativamente na época como "cocotas". Claro que havia as que usavam a calça muito baixa e a mini-blusa muito alta, assim como aquelas mais moderadas, mas de uma forma ou de outra elas estavam lá, todas juntas, buscando uma identidade nova, diferente dos vestidos rodados da infância e diferente também dos trajes de suas mães, com ombreiras e calças de cós lá em cima.
Vale ressaltar que as adolescentes praticam através dos tempos um tipo de moda não excludente. Não importa em que zona da cidade habitem ou quanto dinheiro ganham seus pais, elas se vestem de maneira muito semelhante e sempre, em qualquer tempo, elas ousaram colocar partes do corpo para fora como forma de dizer, "olhem para nós, não somos mais crianças, nós estamos virando mulheres."
Adultos saudáveis aceitam adolescentes, acham graça, sorriem ao vê-las aos gritinhos, sabem que não passam de crianças grandes a caminho de maiores responsabilidades. Sabem que elas estão "se sentindo", experimentando não só vestes, mas formas novas de experiências via atitudes. Entendem que o ar sensual é a expressão de suas primeiras sensações em relação a uma sexualidade já bem mais madura do que a infantil, mas ainda bem longe daquela que deveria viver um adulto. O "deveria viver" é proposital porque somente um adulto mal-resolvido com sua sexualidade vê em uma adolescente de shortinho, burca ou nua, uma proposta velada para ato sexual.
Meninas não deveriam corar por sentirem-se bem com seus corpos, por gostarem de sentir suas pernas, seus braços, seus rostos, mas adultos deveriam corar por pensar qualquer coisa sobre sexo com elas. Todas as mulheres em qualquer idade devem ser respeitadas, mas é cruel que as adolescentes sejam as mais visadas na rua e em sites pornográficos.
Buenas, adultos também deveriam se envergonhar por sentirem-se tão incomodados pela surpresa da sexualidade brotando nessa fase a ponto de tomarem atitudes radicais ditando o que elas não deveriam vestir a fim de evitar provocar os homens. Isso é apropriação do corpo das adolescentes em um momento em que as atitudes deveriam ir em caminho contrário, em direção a uma maior autonomia, ao apoio a uma independência maior justamente para que pudessem amadurecer de maneira saudável.
A fase passa, as roupas mudam, mas o que se destrói de auto-estima e construção de identidade pode afetar para sempre a segurança de uma mulher, não somente para escolhas de roupa, esse detalhe, mas em tudo que se refere ao prazer.
Quando o direito ao desenvolvimento natural da sexualidade na adolescência é reprimido em nome de uma sexualização pecaminosa, repleta de regras de decência contra o que se sente, o que se vive, sob a batuta de palavrões, ofensas e baixarias, estamos investindo em uma sociedade doente, que reproduzirá mais pessoas adultas com baixo poder orgástico, com dificuldades de aceitarem o próprio prazer como algo bom.
Pessoas que sofrem isso e não percebem que sofreram, não se tratam, nunca retomam o que ficou para trás, tenderão a repetir esse padrão e é assim que a massa conservadora vem se renovando no mundo. Porque repetir, apesar de ser menos prazeroso, é mais fácil do que se libertar. Porque submeter as novas gerações a sofrimentos vividos é uma forma morbida de sentir prazer por meio do boicote ao prazer do outro. E isso, claro, é simulacro de prazer, não prazer real.
Assim que, se você é adulto ou adulta e anda irritado com a ousadia, a folga, a alegria, o achismo, a prepotência e a petulância de adolescentes, busque um psicólogo ou um terapeuta, se preferir pode até ser um psiquiatra, porque o seu problema com a descoberta do prazer dessa fase só revela que você vem desde a sua adolescência arrastando probleminhas em relação ao seu prazer.
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