terça-feira, 4 de maio de 2010

Comilanças de bebê

Cláudia Rodrigues
Receitas lá de casa Essa história de ficar passando receitas não tem nada a ver. Cada pessoa, cada família é que precisa descobrir o que faz bem, o que faz mal, o que digere bem ou não. Eu nem ia produzir essas minhas histórias, por conta de pensar assim, mas abri uma exceção ao pensar que muitas pessoas, mesmo gostando de conviver com crianças, nem sempre estudam sobre as nossas necessidades, que são diferentes das dos adultos. Então escolhi as principais receitas da comida dos bebês lá de casa. A famosa papinha tem um item de cada alimento: uma folha, uma flor, um cereal, uma raiz e uma cucurbitácea (as abóboras, abobrinhas, aquelas plantas que se espalham pelo chão). E é muito fácil preparar. Azeite de oliva na panela e um dentinho de alho já garantem um saudável adeus aos vermífugos, desnecessários para o bebê que consome alho e engole sementinhas. Daí é só colocar os cinco itens bem picados. Se faltar algum, de vez em quando, tudo bem. Mas é sempre bom lembrar que as raízes são muito importantes. Elas ajudam a desenvolver nossa firmeza para andar, e também a dormir com mais tranqüilidade, segundo os antigos. Mas de concreto se sabe que são alimentos muito nutritivos que contêm vitamina A, vitaminas do complexo B, vitamina C, ferro, e fósforo. A flor vai garantir a expansão, a criatividade, a alegria, segundo os antigos. A ciência afirma que são anti-cancerígenas, ricas em sais minerais, potássio e fonte de vitamina K; a vitamina anti-hemorrágica, bastante rara em outros alimentos. As folhas contêm o ferro que precisa ser reposto todo dia porque a partir dos seis meses acabam nossas reservas que vieram do útero. O ferro é melhor absorvido na presença da vitamina C, que as folham já trazem. O cereal (integral) é a proteína, perfeita para o desenvolvimento neural e muscular. E as abobrinhas e morangas são as campeãs de vitaminas do tipo riboflavina, A e E, muito importantes para a visão e audição, pele e mucosas. Além da vitamina A, as abóboras contêm vitaminas do complexo B, cálcio, fósforo, ferro e proteínas. Mamãe leu que elas inibem reações alérgicas, tão comuns hoje em dia. Tudo na panela de ferro? Lave um pedacinho de alga Kombu e coloque junto. A alga é altamente rica em proteína. Na falta dela usa-se o tofu, que costumamos gostar de comer e que também é rico em proteína. A alga não deve ser ingerida. É só dar dois minutinhos e colocar água. O tanto para cozinhar. Segundo algumas correntes de alimentação alternativa, o vapor é a melhor forma para cozinhar legumes preservando os nutrientes. Nesse caso os temperos devem ser acrescidos crus ou ligeiramente refogados. Mamãe faz tudo refogado, rapidinho. Ela acha que eu gosto mais assim, com caldo. Sei lá, ela fica falando que vai oferecer do outro jeito mas nunca faz. Ela é meio teimosa, arraigada no que já sabe. Tia Regina sempre fala que é importante acrescentar um fio de azeite de oliva somente no final do cozimento e nunca fritar o azeite. Mãe não sabia, fez isso errado, espero que não tenha fritado nossos miolos. Já está quase tudo cozido? Então é hora de tirar a alga, que já soltou a proteína, e acrescentar os temperos fresquinhos, para que possamos aproveitar bem o sabor e a vitamina C. Salsa, cebolinha, orégano, tomilho, manjericão e coentro podem ser usados com tranqüilidade. Além de levemente calmantes e também vermífugos, todos são riquíssimos em ferro e vitamina C. Esses, sim, devem ser colocados por último, um ou dois minutos antes de desligar o fogo. Ficam com um verde vivo, bonito. Eu como salsinha pura, no quintal, e também azedinha, hortelã e menta. Adoro essas folhas pequeninas que posso arrancar e comer com minhas próprias mãos. A primeira sopinha se faz só com um item, de preferência uma raiz. O inhame é a raiz mais rica e muito bem aceita por nosso paladar inexperiente, seguido pela mandioca, batata baroa ou mandioquinha, a batata-doce e a cenoura, muito nutritivas também. A batata inglesa, além de carregada de veneno, hoje em dia, é puro carboidrato. O pessoal da macrobiótica e os antroposóficos falam horrores da batata. Nem vou contar porque as informações são da pesada. Mamãe acha que radicalismos são sempre complicados. Agora que já tenho um ano, como batata, às vezes. Eu gosto, mas não mais do que uma abóbora daquelas bem coloridas. Passados dois dias de sopa começa-se a acrescentar outro item e assim sucessivamente. Essa é uma medida de segurança indicada pelos pediatras para evitar alergias. Os temperos e o alho podem ser usados sem problemas desde a primeira vez. Mamãe começa com meio dente de alho e vai aumentando até que por volta de um ano, como agora, já como a comida de todos aqui de casa. Depois de algum tempo, que só a cozinheira do nenê sabe qual é, a sopa começa a ganhar o missô, bem pouquinho, só para dar um gosto de sal e preparar o bebê para passar a comer a comida dos adultos. Quem preferir, pode colocar sal no lugar do missô. A diferença é que o missô é altamente protéico e conhecido como um eficaz eliminador de eventuais toxinas, inclusive radiativas. Um monte de gente diz que isso é lenda de naturalista. Sal e missô não devem entrar juntos e só podem ser usados às pitadas para bebês maiores e não para os que estão iniciando o processo de provar alimentos. O cloreto de sódio é desnecessário na nossa alimentação. Mas aqui em casa ninguém come sem sal desde 8, 9 meses. Eu prefiro uma pitada, como mamãe coloca. E a comida da mesa já vem com sal. Mas é pouco. Todos na família querem nos ver comendo carne? Coloque um pedaço de peixe fresco ou frango caipira na sopa... Se quiser, experimente colocar carne vermelha mesmo. Observe o cocô no dia seguinte. O cheiro foi muito forte para você, a cor escura demais? Causou mal-estar ao seus olhos e olfato? Siga a intuição e dê conforme o que diz seu coração. E seu olfato! As teorias são muitas, assim como as teses para o bem e para o mal em relação à carne. Eu nunca gostei, então mamãe não insistiu. Aparentemente não afetou o desenvolvimento do meu cérebro. Meu irmão é carnívoro de carteirinha e tem mil e uma teses, acontece. Respeitar as peculiaridades do paladar de cada bebê parece ser uma decisão sensata. Das frutas, sucos e chás Os sucos podem até ter sua importância no verão. No outono, no inverno e na primavera, o ideal é oferecer a fruta para a gente se lambuzar à vontade. Assim, além de ingerirmos as fibras e uma maior quantidade de vitaminas, vamos exercitar nossa motricidade, em pleno desenvolvimento. Um bebê de sete meses tem plena capacidade para chupar uma laranja lima, com ajuda. Pode comer banana picada e outras frutas mais macias sem engasgar. Dá mais trabalho para os adultos e demora bastante tempo. Mas ficamos mais calmos porque fizemos algo por nós mesmos, cansamos, nos exercitamos e obtivemos prazer por conta própria. Isso sim dá força ao desmame. Bebê bem desmamado é aquele que descobre o prazer de fazer as coisas indo ao encontro lento e gradual da autonomia e não o que é induzido a ser independente, como os que são desmamados precocemente ou superprotegidos, que depois de um ano ainda ganham tudo esmagadinho. No inverno até apreciamos um chazinho de erva-doce depois do jantar. Além de conseguirmos esperar a mamãe chegar do trabalho ou do cinema, atrasando um pouco a mamada, o melhor disso é que, mais tarde, quando aparecerem resfriados ou febres, não vamos resistir aos chás terapêuticos e será mais fácil a cura. Sobremesa? Gelatina natural com suco de fruta da época ou agar-agar, também com suco. Agar-agar é uma gelatina em pó derivada de algas. As gelatinas são importantes para a saúde da pele, ossos, couro cabeludo, cabelo e unhas. Frutas da estação e só. Não precisamos e não sentimos necessidade de doce como os adultos. O uso do açúcar nessa fase é uma perversão alimentar, que causa fermentação, excesso de gases e mal-estar, além de provocar cáries. O açúcar é muito gostoso e por isso vicia, em qualquer idade. Viciados, consumimos quantidades cada vez maiores e então, em pessoas suscetíveis, surge o diabetes. Aqui em casa todos têm dó de oferecer tranqueiras para mim. Eles sabem que se eu ficar doente, com dor de barriga, vômito, febre, diarréia, vou sofrer muito porque sou ainda pequena para entender desconfortos somáticos. Então eu vivo feliz com minha comida saudável. Mas surgiu uma novidade no último mês, quando completei um ano: biscoitos. No lanche da tarde eu já posso comer, especialmente nos dias mais frios; biscoitos de aveia com mel, milho, e gergelim com passas. Também como bolo de milho com todos na sexta-feira. Sempre quis experimentar o bolo de milho que a Kelly faz na sexta-feira! Estão vendo só, como já estou maior e mais poderosa? Agora, produtos industrializados eu não consumo. Nem os específicos para bebês. Gordura vegetal hidrogenada, alimentos levados a temperaturas absurdas como método para esterilização, sem contar os conservantes e corantes, não são confiáveis. Mamãe chama esses alimentos de comidinhas mortas. Em viagens levamos frutas, pão e nossos biscoitos nutritivos. Bem, e eu tenho sempre o leite da mamãe para qualquer emergência. Mingau? A maioria dos bebês adora e no inverno é uma boa pedida. Mingau Iti ni san chi Tempo de preparo: sete minutos Ingredientes: água, farinha de aveia, tofu Numa panela coloque um copo de água, duas colheres de sopa de aveia e mexa até levantar fervura e engrossar. Acrescente duas fatias de tofu picado em pedaços pequenos. Sirva puro ou tempere com duas pitadas de mel. Mingau de praia Tempo de preparo: cinco minutos Ingredientes: três espigas de milho e água Três milhos verdes debulhados e batidos no liquidificador com um copo de água. Coou e joga na panela em fogo baixo. Mexe, mexe rapidinho até levantar fervura. Pronto, está grossinho, bem gostoso. Para nenês maiores pode levar meia pitada de sal ou um caquinho de missô. Na versão doce: mel. Esses mingaus são o fast food do bebê saudável. Podem ser preparados de última hora na casa dos outros ou naqueles dias em que simplesmente não dá tempo de preparar a comidinha equilibrada. Suco de Hulk Tempo de preparo: sete minutos Ingredientes: seis folhas de salsinha, duas de hortelã, três laranjas Bata o suco de uma das laranjas no liquidificador com as folhas bem lavadas. Esprema manualmente as outras duas laranjas. Misture tudo e coe. Sirva na hora em copinho ou na mamadeira. Alguns bebês apreciam a papinha que fica no coador. Melhor para eles. Suco do sol Tempo de preparo: cinco minutos Ingredientes: manga, laranja e maracujá-doce Esprema a laranja, acrescente o conteúdo do maracujá-doce e alguns pedaços de manga. Esmague passando por uma peneira. Sirva com a colher ou em copo. Eu adoro pegar as sementes que ficam no coador. Mamãe deixa eu comer porque sementes são vermífugas. Suco do Batman Tempo de preparo: seis minutos Ingredientes: uma folha de couve, duas tangerinas, meia beterraba Bata os ingredientes no liquidificador, coe e antes de servir acrescente algumas gotas de limão.
Estão vendo só como pode ser prática e rápida uma alimentação não-industrializada? O que está por trás das nossas negativas O segredo da aceitação dos sabores ácido, meio amargo ou com cica, reside bastante no prazer que sente a pessoa que os prepara. Se ela faz com a cara amarrada, a gente desconfia que a coisa que vem não deve ser boa, oras. Mas se a pessoa canta, brinca, conta histórias enquanto faz as misturas, a gente também fica com o corpo aberto para novidades. Se você é o adulto que está preparando a comida do bebê, não esqueça de experimentar antes. Se estiver ácido, faça a melhor cara de ácido que conhece, emita sons para o que é doce, amargo ou com cica. Gostamos disso e com alegria desce até jiló. Isso se jiló não significar, para o seu bebê, o que mamão significa para mim. Eu como jiló, faço a maior cara de amargor e me mato de rir com meus irmãos. Crianças adoram dar conta desses desafios e são vocês, adultos, os responsáveis diretos por incutir em nossas cacholas que só o doce, o consistente ou o que derrete na boca é que são bons. Comidas, iogurtes e sucos industrializadas contêm ácido cítrico. Esse remedinho da indústria também é responsável por uma falsa sensação de saciedade de tudo o que é cítrico. A vitamina C natural das frutas cítricas acaba ficando fora da alimentação. O resultado aparece nas doenças terminadas em ite, como otite, amigdalite, faringite. O tempo para abrir uma embalagem e pegar uma colher ou canudinho é inferior a um minuto. A cura de doenças infecciosas reincidentes pode durar vários anos. Ultimamente os pediatras menos responsáveis em relação a alimentação, aliados à conveniência de manter os clientes e às participações em congressos patrocinados pela indústria de alimentos e remédios, têm apelado para cirurgias nasais e auditivas de resultados futuros ainda pouco conhecidos. Deus me livre encontrar um pediatra desses, logo eu que nunca peguei uma gripe! Café da manhã e lanches Banana isrulp Tempo de preparo: 3 min Ingredientes: 1 banana, sete passas de uva e meio limão Pique as bananas e coloque uma passa de uva em cima de cada rodela. Pingue em cada passa uma gota de limão e vá falando, fazendo a careta, os isrulp com gosto de limão. Dê ou deixe que a gente pegue. Alguns de nós se encantam pelas passas e dispensam as bananas. Outros desconfiam das passas. Continue tentando, a gente não é tão inteligente assim, mas é bastante curiosa e acaba experimentando. Gelatina mané orgânico Tempo de preparo: 2h Ingredientes: 1 copo de suco, 1 colher de sobremesa de gelatina agar-agar. Dissolva a gelatina no suco, mexa bem e leve ao fogo. Antes de ferver desligue. Leve à geladeira. Isso tudo é feito em cinco minutos mas na geladeira, paradinho, sem incomodar, o agar-agar levar duas horas para ficar no ponto. Sirva com a colher, mas não se desespere se o seu bebê quiser pegar um pedaço para esmagar e tentar levar à boca. Acho que os adultos não têm mais idéia do quanto é bom esmagar uma gelatina. Manga das nuvens Tempo de preparo: 3 min Ingredientes: um punhado de flocos de arroz e 1 manga Pique a manga em pedaços pequenos e jogue o punhado de flocos por cima. Esse é um prato para servir ao ar livre. Só tem graça se a gente puder pegar com a mão e ainda sobrar um caroço no final. Ficamos nas nuvens e dá a maior calmaria depois, porque a energia gasta para tal feito é imensa. Petit dos fortes Tempo de preparo: 6 min Ingredientes: 3 morangos, duas colheres de chá de gergelim e 1/2 tigela de iogurte natural Pique os morangos e despeje o iogurte. Acrescente o gergelim e vá oferecendo, sempre permitindo que a gente pegue algum pedaço. Depois dos sete meses aumenta muito a nossa angústia de pegar as coisas e levá-las à boca. A natureza não é mesmo perfeita? O que há de errado quando não comemos essas delícias? Humm pode ser uma coisa só ou várias. Para saber quais ou qual, é necessário que o adulto responsável por nos oferecer os lanches identifique nele mesmo o problema porque é raro, muito raro mesmo, um bebê não gostar de muitas frutas, embora seja normal que não goste de uma ou duas. Se o bebê consome alimentos com adição de açúcar, como iogurtes industrializados, pode residir aí uma defesa. É só parar ou reduzir a oferta. Tão pequenos, entretanto, ainda não tivemos tempo para ficar viciados em ácido cítrico, corantes e naquele gostinho especial que só os conservantes deixam nas comidas. É muito provável que o adulto responsável por nosso lanche não suporte a bagunça, a meleca e principalmente o tempo que levamos para dar conta de uma refeição preparada na hora, que pode não ser tão demorada no preparo, mas toma muito mais tempo para ser consumida. Bem, esse adulto precisa saber duas coisas: a primeira é que um lanche demorado sacia a nossa urgência oral, o que nos acalma, não somente na convivência durante o dia, como também auxilia o sono noturno. A segunda diz respeito apenas ao adulto. Se ele está presente para tomar conta e dar os lanches, não há razão para pressa. Cuidar da gente é assim mesmo, por etapas. Se tudo for feito com bastante tranqüilidade, ao final do dia não haverá tanta estafa. É que tem adulto que fica correndo com a gente para lá e para cá e esquece que precisamos repetir movimentos, contemplar a natureza, ir e vir em rituais que, obviamente, não são próprios dos adultos.

6 comentários:

  1. Que modelos mais lindos!!!

    Amei algumas das receitinhas que eu não conhecia.

    Beijos!
    Flavia & Emilia

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  2. Não sei do que eu gosto mais: das receitas propriamente ditas ou dos nomes das sugestões hahahaha
    São nomes que fazem cocegas na gente!
    Muito bom!

    Renata Lira

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  3. Delícia de post! Aqui a gente também adora comidinhas com várias cores de legumes, na panela de ferro! Vamos aproveitar as receitinhas quando a Inaê começar a comer!
    Beijos nossos!

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  4. Adorei o post e as fotos, só reconheci Nani... Se soubesse tinha oferecido alguma(s) do meu modelinho, tem algumas impagáveis no meu album do Orkut! Beijos

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  5. Belíssimo texto, lindas fotos e receitas deliciosas!

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  6. Oi Mariana, pode enviar as fotos do Antônio. Esse texto é o segundo mais lido do blog.

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