domingo, 26 de dezembro de 2010

Meu primeiro Natal



 Cláudia Rodrigues


Na manhã do dia 24 acordei cedinho e fui dar uma volta com papai na fazenda do vovô, o local escolhido para o Natal da família. Papai montou em um cavalo grandão e você foi logo me tomando nos braços para impedir que eu montasse também, mas fiquei doido ao vê-lo lá em cima e não teve jeito: ele me pegou e fomos andar a cavalo, passamos debaixo da parreira de uvas, vimos as galinhas lá de cima, você lá embaixo, menos poderosa do que eu, e foi mesmo divertido sentir o cheiro do cavalo, puxar com força as crinas do bicho. Os cavalos parecem cachorros gigantes, nunca tinha visto um. Aos onze meses, já passei da primeira fase dos medos e começo a ficar esperto para as aventuras da vida, desde que o adulto seja um companheirão, o que é o caso do meu pai.
Depois do almoço estava cansado; além do passeio a cavalo, brinquei com os primos que me fizeram engatinhar pelo gramado sem parar. Ganhei um banho e a prima Juliana penteou meu cabelo, comi e adormeci no berço preparado pela vovó. Mãe, acordei somente no final da tarde, o que não é meu costume, e por isso fiquei bem aceso na noite de Natal.
As pessoas estavam felizes e as crianças ganhando muitos brinquedos antes da meia-noite, de tanto que imploraram. Havia um monte de papéis pela sala e eu engatinhava entre eles, rasgava-os e ninguém se importava com minhas peraltices. Quando o cuco da vovó começou a bater as doze badaladas, as pessoas começaram a se abraçar, algumas choravam e riam ao mesmo tempo, outras comiam e, mais ou menos por aí, peguei no sono com tia Consuelo. Ela viu quando caí, numa das minhas inevitáveis tentativas de dar os primeiros passos, e me acalantou na rede da varanda debaixo de um céu que nos olhava cheio de estrelas. Só os grilos e sapos faziam uma orquestra para nós. Dali ela me levou ao berço. Despertei na madrugada só para mamar em você, me assegurar de que tudo estava bem; depois voltei a dormir profundamente.


Hoje acordei mais tarde. Fomos ao pomar e comi o primeiro figo de minha vida. Achei delicioso, já estava meio entediado do trio banana, mamão e maçã. Agora estamos na cozinha, você ajudando a vovó a preparar o almoço e eu aqui, brincando em solo firme. O primo Francisco acabou de passar correndo e eu tentei alcançá-lo engatinhando. Não consegui, ele desapareceu e eu chorei. Vovó me deu uma panela e uma colher de madeira. Fiz um barulhão e três primos vieram ver. Me senti muito importante e comecei a rir. Aos onze meses, sou assim: ora estou chorando, ora rindo; por enquanto é só uma questão de ser consolado. Mas já observo as pernas das pessoas e algo me diz que não vai longe essa fase de só engatinhar para me locomover.
Ah mamãe, nossa rotina é tão boa, mas como é gratificante sair dela, ter uma família, ser cuidado por outras pessoas.

Texto do livro "Bebês de mamães mais que perfeitas", veja gadjet ao lado com remissão para Centauro Editora e livrarias.



6 comentários:

  1. Que lindo. Obrigada por compartilhar este texto tão bonito que me tocou bastante.
    Obrigada ainda pela companhia este ano.
    E um feliz 2011!
    Beijo!

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  2. Eu que agradeço Patrícia.

    Tenha um 2011 cheio de amor, saúde e alegrias.

    bjs.

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  3. Lindo, lindo, lindo!!! Ando chorona, me emocionando com tudo... seria a ocitocina e a prolactina de quem amamenta? rsrsrs

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  4. É né, que delícia esse banho hormonal que vem a cada bebê. Aproveita. Estou cá curtindo meus últimos níveis de estrogênio, estão trazendo uma molecagem, um espírito libertário, é estranho, diferente. Uma amiga uma vez contou, aos 50 anos, que ter 50 era parecido com ter 12, meio anos rebeldes. Estou assim, mas lembro com saudade da curtição dos suaves hormônios da amamentação.

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  5. Oi Cláudia,
    Já tem o volume 2 do livro BMMQP? Pois este texto do Natal não consta no volume 1...
    Leio e releio teu livro, é lindo, tão suave, tão expressivo... estou grávida de 13 semanas, procurando ouvir a "ancestralzinha"... rs
    Feliz 2011!
    Tati

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  6. Oi Tati

    Ops foi descuido. Alguns textos ficaram de fora, esse deve ter sido um deles. Eu pego aqui no meu arquivo direto e sem revisão (meldeus)e organizada que sou não tenho esses apontamentos de quais foram excluídos da edição final.

    O volume II seria de 2 a 4 anos, mas ando com dificuldade de escrever sem receber. Acabo usando o tempo livre para o blog, comunicação com amigos e o livro, um projeto pessoal, acaba ficando para lá. Esse ano escrevi mais sobre amamentação, um outro livro, esse mais perto de ficar pronto do que o vol II do Voz da Criança.

    Bjs gratos e um feliz 2011, com muita saúde, parto pleno, muito leite e ótimo contato com seu bebezinho que está por vir.

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