sábado, 10 de dezembro de 2016

Medo do Papai Noel





Cláudia Rodrigues

O guri estava com 4 anos e desde o primeiro contato com a figura do Papai Noel, sempre resistiu. Com um ano abriu o berreiro só de olhar. Pai e mãe acolheram, era muito pequeno para entender sobre o velhinho e a lenda dos presentes.

No segundo ano decidiram tentar de novo, afinal todas as crianças gostam e nesse ano seria diferente, ele já pedia coisas, era só associar a figura do Papai Noel com a palavra Natal, a festa e tudo daria certo.
De novo o menino encrencou, assim que viu o sujeito de roupas vermelhas e barbas brancas pulou no colo do pai gritando desesperado.
A mãe sorriu, tentou seduzir, mostrou as outras crianças, como pegavam balinhas, como o velho era bacana com elas, mas não teve jeito, o moleque nem olhava, com os olhos apertados, enfiados no colarinho do pai.
Meio frustrados, desistiram, não era bom insistir, talvez aos três anos.

No ano seguinte foram de novo, dessa vez escolheram ir a um shopping diferente para ver se funcionava. Nem chegaram à introdução, o menino havia corrido na frente dos pais, atraido pelas luzes da decoração, mas acabou dando de cara com o Papai Noel e voltou como um raio para perto dos pais, escalando a mãe em menos de um segundo, chafurdando na blusa da genitora.
Dessa vez o pai que insistiu, chegou a dar uma forçada, mas desistiu quando a mulher fez um sinal de que forçar não seria uma boa ideia.
E o moleque chegou aos 4 anos, já jogava damas, respeitava as regras do jogo, sabia pular, mergulhar e nadar. Dessa vez com certeza daria certo.
Lá foram os pais para nova tentativa.

O guri assistiu meio entendiado a chegada do Papai Noel de helicóptero, depois entrou com os pais na fila para ver o Papai Noel e permaneceu entediado, queria comer algo, pediu para ir ao parque andar de bicicleta.
Os pais ali, insistindo.
Filho, só mais um pouco e já vamos ver o Papai Noel e logo podemos comer e ir ao parque.
Alguns minutos depois o piá formula uma pergunta:
Por que vocês querem ver o homem fantasiado?
É o Papai Noel, filho, você não quer vê-lo?
Não, não quero, quero ir à praça.
Filho, você não gosta do Papai Noel?
Gostei da parte do helicóptero.
Você tem medo de chegar perto dele?
Não, eu tenho vergonha.
Vergonha de quê?
De um homem grande se fantasiar assim em vez de Batman.

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