domingo, 8 de janeiro de 2017

Carta do futuro


 Cláudia Rodrigues



Para quem está às voltas querendo um tempo dos seus bebês, crianças, adolês e jovens.

Eles viram adultos e você vai ter que aprender a lidar com a saudade dos seus grudadinhos. E lidar bem pode não ser tão fácil, eles podem se sentir ofendidos e com razão a respeito de invasões e proteção de espaços exclusivos.
Pior, eles serão capazes de levar o seus mais novos e mais potentes amigos genéticos, seus netos, para longe de você por dias, semanas, meses e até anos ou para sempre, como é o caso de migrantes.

Há quem possa viajar para visitar os seus ou recebê-los em visita, há quem não possa. Há relacionamentos distanciados que foram fundados e sedimentados assim por razões muitas e sentimentos involuntários, condicionados ou congelados.

Há quem consiga viver em paz com a presença e a ausência dos filhos adultos sem maiores dramas. O mundo está cheio de tragédias, as irreparáveis, para além das nossas mazelas na labuta familiar.

Amar mais profundamente com disposição emocional para doar tempo, compartilhar e ajudar as crianças a irem ficando cada vez mais autônomas e capazes de lidar com as adversidades e diversidades da vida; parece ser a saída menos traumática. Faz parte que aprendam a conviver em compartilhamento com outras crianças, de diferentes famílias, desenvolvendo-se juntas.

Pode ajudar a deixar ir na hora em que podem ir por desejo próprio. Vão se afastando devagar desde que nascem, quando dispensam o útero. É preciso deixar que vão, confiar em tudo de bom que foi compartilhado, enraizado, erguido e alastrado. Melhorar no que se errou, enfim não repetir algo ruim, que não dá certo, que espanta o amor é tarefa para as convivências íntimas, agora no tempo que eles têm. E eles retribuem de acordo com o que receberam, mesmo quando não lembram de tudo que os adultos pais lembram. Temos que lidar com a fato de que eles amam a família, mas estão em fase de desbravar mundo e novos afetos, gentes e bichos que sejam sua referência maior, para que possam ficar mais tempo por aqui sem saudade de nós.

A vida é perfeita, o desenvolvimento do ser humano, incluindo o ocaso também como fase de desenvolvimento, é perfeito. Tudo que podemos fazer de melhor é acompanhar, observar e respeitar as leis da natureza. Há muitas adversidades no caminho e todas elas são próprias, frutos do que se viveu, do que se trouxe na carga genética, com influência da história,do ambiente social e econômico e uma pitada de acaso, que tenta ser explicado por religiões e ceitas.

Costumeiramente pais e mães que lidaram com pouca disposição emocional nos primeiros anos de vida e da adolescência dos rebentos, tendem a lidar mal com a chegada da vida adulta dos filhos e filhas. Podem ter passado a adolescência deles doutrinando ou reclamando, mas diante de filhos adultos não largam o osso, continuam pautando, ajudando, cobrando e reclamando.

Querem colo dos filhos, querem brincar, estar juntos. Há pais e mães que se mantêm na preferência pelo distanciamento, mas todos eles ficarão ali brincando com aquilo que foi construido. Nem menos nem mais, só o reflexo em versão hard.

Do útero ao peito, do peito ao chão, no chão os primeiros passos, as primeiras corridas, o sobe e desce, o pátio, a praça, o parque, as casas dos amigos e parentes, a escola, os colegas, os próprios amigos e amigas e lá se vão e que sejam eles mesmos.










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