Cláudia Rodrigues
Bebês nos amam porque dependem de nós para sua sobrevivência primária.
Crianças nos amam porque precisam de nós, uma questão de sobrevivência secundária.
E então o que antes era necessidade, passa a ser uma dúvida, talvez uma escolha.
Adolescentes sentem no corpo e na alma que poderiam sobreviver sem nós, assim, hipoteticamente.
Isso é tão instigante para eles!
E finalmente o amor dos filhos pelos pais chega ao ápice na vida adulta, quando já sem precisar de nossa companhia, eles escolhem apenas amar, incondicionalmente e em doses homeopáticas.
O amor dos bebês e das crianças pequenas é repleto de idolatração.
Normal e esperado que idolatração e simbiose deem lugar a formas mais elaboradas de amor. Uma pena quando os genitores teimam em ficar no altar narcísico do amor por idolatria. Eles deixam de experienciar o amadurecimento do amor dos filhos, tornando-se déspotas, vítimas ou uma combinação dessas características.
O melhor do amor dos filhos por nós é o que eles têm para viver em cada fase. O decréscimo natural da necessidade poderia sempre ser visto e sentido como algo leve. Só porque apenas é.
Óbvio que a fase simbiótico narcisista da paternidade/maternidade de bebês e crianças é uma novidade relevante na vida de quem pega a estrada filogenética. Os bracinhos sempre abertos dos filhotes, a necessidade de contato físico constante, peito, colo, quentinho da cama, histórias para dormir.
Logo depois é a hora dos pequenos grandes feitos que nos fazem sentir heróis: o primeiro mergulho, a bicicleta, o be-a-bá, cavalgar, jogar bola, fazer fogueira e tudo o que nós, soberanos, ensinamos, orientamos, acompanhamos e promovemos. Sim, somos muito importantes, fundamentais.
E é tempo, são anos de dedicação e louros de importância e então vão chegando dias mais calmos, noites inteiras, viagens sem eles, leituras próprias, filmes próprios, a vida nos abre um vácuo de possibilidades e voltamos a um certo eixo que julgávamos perdido. E eles estão ali, por aqui, por aí, fazendo seus próprios eixos, ampliando suas possibilidades. Já não somos seu Sol e tudo está bem, nós somos apenas a Terra, porto seguro em eixo próprio pelo máximo que nos for possível, até o dia em que viraremos Lua, inexoravelmente.
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