Por Cláudia Rodrigues
A partir dos quatro anos de idade a criança começa a sentir uma necessidade interna de competir, disputar espaços. Ela quer provar a si mesma que é capaz e isso faz parte do seu desenvolvimento. É bom para a criança competir, exceto quando os pais cobram competência, frustram-se com as derrotas exigindo que o pequeno tenha um comportamento de campeão, sem direito a perder.
É saudável que os pais recebam os filhos e os talentos naturais que cada um tem, mas quando projetam algo como “meu filho vai ser o esperto, ou o campeão de futebol, o inteligente, o artista", enfim quando eles colocam um carimbo na criança, a competição passa a ser algo doloroso, que a coloca em risco de não sentir-se boa o bastante. Quando os pais projetam muito os seus desejos nos filhos, as crianças passam a viver para agradar os pais e isso faz com que percam o contato com seus próprios desejos, o que as impede de desenvolverem uma identidade própria. Uma criança muito exigida em sua capacidade de competir pode desenvolver fobias e se tornar infeliz, mesmo quando é uma vencedora e corresponde às expectativas dos pais.
Quando os pais ajudam uma criança maior de quatro anos a ganhar um jogo, burlando regras, por exemplo, estão tentando fortalecê-la, mas o que conseguem fazer é que se sinta uma fraude. Ela não acredita de fato que venceu e é aí que mais uma vez a perda honesta é mais importante do que a vitória desonesta. Perder, entre outras coisas, ajuda a criança a lidar com frustrações.
Nilze Bezerra, psicopedagoga clínica, explica que a perda fortalece o senso ético: “Perder com dignidade sempre fortalece mais do que ganhar com malandragem. Os pais que ensinam a importância da dignidade em uma perda estarão deixando um legado ético para os filhos”.
As vitórias são igualmente importantes quanto são conseguidas com esforço, dedicação e respeito aos próprios limites e é fundamental que se comemore cada uma delas. Mas se competir, ganhando ou perdendo, é importante, esquivar-se das competições e jogos durante essa fase, já se caracteriza como fuga de um processo natural do desenvolvimento.
“Quando a criança se recusa a competir aos quatro anos, ainda não podemos configurar isso como um problema a ser tratado, pois há um tempo para cada indíviduo, mas aos sete, ela estará lutando contra a evolução de sua auto-estima", explica Bezerra.
Cabe aos pais receber a necessidade de competição das crianças com sensibilidade suficiente para não hiperinvestir nos pequenos ao mesmo tempo em que devem se assegurar de que os baixinhos estão dando conta do recado, lutando, ganhando e perdendo; preparando-se para serem adultos capazes de encontrar um espaço na sociedade. Esse espaço, quando adquirido com afeto e respeito dos pais, garante à criança o direito de exercer a sua singularidade, tendo como princípio básico a sabedoria de que ninguém é melhor ou pior, mas apenas diferente, com potencialidades particulares.
Aprender a competir sem o objetivo de derrotar o outro, mas de chegar ao seu melhor, entendendo que isso pode não significar ser “O maior”, desenvolve na criança mais do que um senso ético, uma visão solidária. Aos poucos ela vai conseguir parabenizar sinceramente o colega que venceu e lá na frente, na vida adulta, em vez de cultivar a inveja e o despeito continuará dando o melhor de si sem deixar de admirar e apoiar as diferenças e qualidades alheias.
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