Cláudia Rodrigues
Pegou, grudou, conseguiu vencer a ausência dos mililitros gravados nos seios, até curtiu, gostou, doou e pronto, caiu do outro lado; encafifação do desmame. Nada é perfeito e sobre desmame as respostas são vagas, a literatura é mínima, a pitacação máxima e de acordo com as crenças de uma mulherada que vem sofrendo todo tipo de preconceito e discriminação ao longo da história da civilização.
No passado recente se resolvia o desmame com autoritarismo ou requintes de crueldade: pimenta, tinta preta nos seios, esparadrapo. Hoje complicou geral. Além dos velhos métodos ainda sobreviverem, o caldo cultural trouxe novidades, como remédio para secar o leite, separação radical da tríade bebê/mãe e pai, quando o casal sai para uma merecida viagem de segunda lua-de-mel. Pois é, faz parte do imaginário contemporâneo encarar os filhos como atrapalhos na vida do casal.
O término da licença-maternidade em 4 meses é um problema de fato, mas a piração-mór de muitas mães que desmamam abruptamente antes desse prazo para prevenir a chegada do final da licença é mais bizarra ainda, algo ao estilo: vamos cortar pela raiz. Frases como “o meu chorou três dias e três noites, mas deixou e ficou ótimo”; “melhor sofrer agora comigo do que depois sem mim”, são muito comuns e não tem sociólogo que explique porque a educação humana é baseada em punição, humilhação, fazer criança chorar, em minimização do choro da criança em nome do exibicionismo das habilidades adultas. A prática do consolo diante do sofrimento de um filhote está presente até nos primatas, mas curiosamente nossos excessos de zelo culturais nos levam contra os sólidos alicerces da vitória na luta pela sobrevivência. Pelos excessos de zelo adultizamos as crianças, promovemos e compramos coisas que só satisfazem nossa vaidade de adultos e acabamos achando que prevenir a dor da separação aos 4 meses deve ser por desmame radical e mais precoce ainda. O apelo cultural é tão forte para separar mãe e filhote humanos, que muitas mulheres sequer entram em contato com os vários ângulos de uma separação precoce, que pode ser atenuada com maestria justamente por um desmame gradual.
Outras maelucas belezas de nós conseguem voltar ao trabalho e ainda esgotar leite algumas vezes ao dia para fazer estoques. Adoro essas, nunca fui capaz! Há as que apenas vão e voltam do trabalho e em casa sempre amamentam sem grilos maiores de quantidades, afinal os peitos não têm mililitros mesmo, para desespero dos pediatras que sempre suspeitam que vai faltar cálcio. Incrível, mas em pleno 2011, os pediatras ainda sofrem da Síndrome de Atlanta e só enxergam cálcio em leite de vaca industrializado para bebês. Alguns já receitam leite de vaca previamente, como se o retorno ao trabalho fosse necessariamente um caso de complementação absoluta e sem discussão, sem alternativas mais sensíveis e inteligentes. E claro, toda mãe tem o pediatra que merece porque se não dispara de um desses, merece-o. Tá, vamos admitir que encontrar um pediatra realmente humanizado é mais difícil do que um obstetra humanizado. Pediatra bonzinho e assustado, que faz tudo conforme as evidências da década de 1970, temos aos montes. Agora, os que sabem orientar e fortalecer a autoestima da mãe para amamentar e ainda pescar os problemas do desmame e orientar caso a caso, são raríssimos. Ainda bem que temos liga La Leche e enfermagem especializada no assunto Amamentar. Sim, porque na hora do desmame a bagunça mental e prática é generalizada. Ah pois é, isso mesmo, existe um momento na vida da criança que desmamar é benéfico. Ah é? Mas não é assim quando a criança romanticamente quiser e decidir? Não é ela quem manda, quem decide sobre o desmame? Ah sim, os dois decidem democraticamente juntos, sem conflitos, em comum acordo? Hummm, essa lagoa de leite não seca jamais quando partimos do princípio de que para algumas mulheres amamentar está vinculado a sentimentos profundos de uma maternagem ideal e desmamar seria como abrir mão desse carinho, desse poder ou desse jogo de poder, para ser mais exata. É raro esse sintoma aparecer em mulheres representantes do status quo, que desmamam precocemente ainda no primeiro ano de vida do bebê, mas é bastante comum nas militantes pró-aleitamento.
Desesperadas para aumentar o aleitamento humano para níveis dignos, o que é muito louvável, a mulherada mais que perfeita das técnicas pró-amamentação se enraivece e recomenda amamentação por uma estrada de vida a perder de vista, insistindo em paciência para as que não aguentam mais dividir o corpo com a criança e dourando a pílula das que vêem o desmame como uma espécie de velório da maternagem ideal.Tudo a fim de evitar- como se fosse possível - mais uma etapa de conflito nas fases do desenvolvimento infantil. E desmame é conflito, sempre foi e sempre será. Não é coincidência que o famoso terrible twos ocorra no segundo ano de vida. Atrás de uma crise de birra sempre tem uma criança exigindo mais autonomia e atrás de uma mãe reclamando que não agüenta mais as crises de birra sempre tem uma adulta com dificuldades de autocontrole que projeta essa falta controlando excessivamente o rebento.
Pode existir desmame sem dramas, separação sem dramas, mas na natureza não existe um lugar bege, neutro ou como ordena a moda semântica, “nude” para separações. Sem retirar o mérito das mães que lutam por um período minimamente digno de amamentação, que no Brasil é vergonhoso, menos de 4 meses na maior parte dos estados, é importante ressaltar que a negação do conflito traz seguramente uma amamentação excessivamente prolongada para as crianças em fase plena de autonomia e desembaraço. A contracultura do desmame precoce desceu de óculos cor-de-rosa sobre os alicerces do moralismo e dos bons (?) costumes e vem, nessa forma boa-moça de socializar a informação, projetando nos peitos com leite um mundo falso de purificação e proteção absoluta e sem fim. Aliás, não é porque a pesquisite está solta a favor da amamentação que as crianças amamentadas estão livres de doenças e as desmamadas serão eternas doentinhas. A saúde humana é muito mais complexa do que consegue atestar esse morrinho de pesquisas científicas. Mal lidas, essas informações podem levar as mulheres com tendência purista a desenvolver má relação com a introdução dos alimentos, um dos sintomas do conflito negado e/ou mal-resolvido do processo de desmame. “Dá licença mamãe, mas dá para tirar os peitões da minha cara que eu quero brincar de Batman!!?”, diria um gurizinho de 4 anos. Infelizmente muitas militantes acreditam que a responsabilidade imensa sobre o desmame é decisão exclusiva da criança, sem conflito algum, sem sinal de fadiga, sem crise de birra, sem uso abusivo do peito com mensagens quase subliminares de “cala-te nenê, não enche, não vou te dar atenção de criança maior agora, mama aí moleque e fica quieto”. De novo, em nome do excesso de zelo cultural, vem a repressão. Dessa vez a repressão ao desenvolvimento natural do ser humano, que é mamífero sim, mas não um mamador a perder de vista.
Desmamar é conflito, encarando vem a solução e o desfrute da nova etapa
Se a cor do parto é escarlate, a do desmame começa com um sinalzinho amarelo quando a criança começa a andar e a mãe reage naturalmente tornando-se também ela mais ativa. A criança vai e volta, busca objetos e os entrega à mãe, ela diz com seus gestos: “eu também posso te dar, eu também posso ser seu dono, posso controlar você”. A mãe que entende essa linguagem não deixa de dar o peito, mas vai naturalmente parar de oferecer a cada solicitação de atenção da criança, afinal aquela criança já abre potes, armários, descasca uma banana, monta e desmonta e até pedala seu triciclo! Se essa criança toma mamadeira ou chupa chupeta, do mesmo modo a mãe deve nessa época parar de oferecer objetos orais como consolo porque a criança está nitidamente se desligando, em seu processo lento e gradual, de uma necessidade de consolo exclusivamente oral e se beneficiará muito mais de usar as próprias mãos para atingir seus objetivos, marcar sua presença no mundo e fazer-se sujeito de uma história assimbiótica. Ah é, esqueci, dá mais trabalho e o tipo de atenção que exige uma criança no segundo ano de vida é diferente, aceita menos manipulação, quer ser reconhecida em atos e fatos fisiológicos indubitáveis. Algumas mamas mais loucamente espertas sentem um certo prazer em afastarem-se dos seus rebentos por algumas horas ao dia quando eles começam a caminhar e interagir com outras pessoas. Outras, mais loucamente culturais, adiantam esse processo para ele casar direitinho com a licença-maternidade. E tem as belamamas, com filho bonzinho de dois anos que nunca reclama de nada, prefere mamar o tempo todo e detesta qualquer comida quando está perto da mãe. Com umas ou outras, o fato é que a dessimbiotização começa no parto (ou na cesariana) e começa doendo, só aliviada por longos consolos de leite nos primeiros meses, quando a livre demanda vai produzir um bebê calmo e alegre. O processo de separação do corpo da mãe continua em franca e notável evolução no desenvolvimento da criança, que passa a rir, comer, interagir mais com pais, irmãos, família. Como estará ao final de dois anos após o nascimento? E afinal, do ponto de vista psíquico, que raios faz um peito na vida de uma criança de 4 anos? Ah, sem essa de sexualização no sentido freudianamente mal-interpretado e doentio; a questão é de autonomia, de respeito a uma individualidade óbvia que uma criança de 4 anos tem, necessita e merece ter.
Manter a simbiotização com uma criança de 4 anos ou mais é seguramente um exagero, uma necessidade materna de aprovação e controle que nada tem a ver com o desenvolvimento natural dos pequenos. E é preguiça também, em muitos casos, vamos encarar sem delongas, sem panos quentes. Amamentar 15 vezes ao dia um moleque de 3 anos quer dizer que o bicho da neurose simbiótica está pegando, porque por volta dos dois anos já deu tempo mais do que suficiente para reparar a separação da barriga e apreender muito do mundo aqui do lado de fora da barriga da mamãe. Desmamar ao longo de um eventual terceiro ano, gradual e lentamente, é sem grandes dramas um bom acordo com as mamães mais apegadas. Agora, se pode dizer com segurança que uma criança amamentada até os dois anos não foi desmamada precocemente.
E afinal, o leite deixa de nutrir depois dessa ou daquela idade? Não, não deixa, mesmo uma pessoa de 30 anos recebe nutrientes de leite humano se beber leite humano, ué. Leite é leite, se o de vaca tem nutrientes, se o de cabra tem nutrientes, o nosso também tem. Agora, é necessário beber leite, seja de que tipo for? Depende da sociedade, beber leite na vida adulta é um hábito cultural, ter preconceito contra leites de outros bichos ou com o próprio leite humano também.
Então era isso, o momento na corrente cultural atual é desmame precoce ou abrupto, muito mal feito e muitíssimo mal orientado pela maioria dos pediatras de plantão. Na contracultura viceja desconhecimento sobre os desmames legais o bastante, que seriam admitidos como conflitos de separação a serem vistos sem tapa-olhos psíquicos, não-romantizados e menos dramatizados.
muito esclarecedor, muito pertinente!
ResponderExcluireu me preocupei muito com a questão de um desmame precoce (justamente por todas as dificuldades culturais que vc cita) e ainda acredito no desmame natural, que nos casos que vejo em geral tem acontecido entre 2 e 3... (antes de 1 ano, estou convencida de que é precoce, sim)
por aqui conosco está sendo super-interessante de ver como vamos achando outras formas, eu e inaê, de estarmos juntas, que nao passam pelo peito... porque o bebê quer atenção da mãe, olho no olho, brincadeiras, palavras, e às vezes a mãe não dá nada disso e enfia um peito porque é mais fácil, e continua falando no telefone ou fazendo outra coisa, sem dar a tal atenção... muito triste...
minha pequena está com 1 ano e 3 meses, de noite ainda mama bastante pra dormir, e também ainda sinto como um momento bom pra nós duas, por isso minha aposta é de que ainda vamos até os 2 anos
porém, cada vez mais caminhando pra ser só mesmo na hora de acordar e na hora de dormir, inclusive há poucos dias ela acaba de passar o dia inteiro sem mim, só com o pai! (foram passear e mãe ficou estudando... rsrsrs)
também já come de tudo, ou seja, problema nenhum ficar sem mamar!
tão legal viver cada fase intensamente pra poder passar por ela numa boa, né?
amamentei totalmetne livre no 1o ano, hoje amamento quando vejo que realmente ela quer (cada vez menos durante o dia), por isso sei que não vou ficar nostálgica quando o desmame total chegar: novas fases, aqui vamos nós!!!
beijo e buena leche, mucho leche, pra todo mundo!
Ai, Cláudia, vc é demais realmente.
ResponderExcluirNós, mães, temos que aprender a ler os sinais dos nossos filhos. Não devemos enxerga-los como seres estáticos, que não evoluem.
Fiquei surpresa com as combinações que fizemos sobre o desmame aqui em casa. Ainda não desmamamos. Tudo tem sido gradual.
Depois de 1 ano, combinamos que não mamaríamos mais na rua, só em casa. Ela aceitou muito bem, salvo dias em que permanecíamos por muito tempo na rua.
Depois dos 2 anos, combinamos que só mamaríamos na hora de dormir (na soneca da tarde e a noite). Como ela já fala, ela entendeu e repetia: tá, mamá, mimi, na cama. Aqui foi ainda mais natural.
Agora, ela está com 2 anos e 2 meses. Sei que fui eu que a acostumei dormir mamando e ainda não vejo uma alternativa possível pra gente. Mas, vamos encontrar.
Procuro sempre fazer essa reflexão que vc fez aqui com muito mais propriedade: não quero que o peito seja o vilão dela, que a prenda a algo que ela já pode superar.
"Tamo" de olho"!
Muito obrigada pelo texto. Bjs
Eu que agradeço, esse assunto é espinhoso e algumas pessoas que sentem ter passado da hora da criança, esticado a corda, magoam-se facilmente, o que me deixa muito chateada porque fogo amigo é o que mais dói. Agora, eu não poderia deixar de escrever sobre isso nesse momento de mamaços pelo Brasil, no auge da promoção da amamentação porque o desmame é parte integrante e inclusive dura um tempo maior do período, já que a amamentação exclusiva sem processo de desligamento não ultrapassa muito mais do que os 6 meses, de maneira geral. bjs, Cláudia
ResponderExcluirOlha, Cláudia, nunca foi espinhoso esse assunto pra mim. Sempre senti que o desmame tem que acontecer um dia, e que devemos contribuir pra esse desenvolvimento. Já fui sacudida pelos seus textos algumas vezes sobre esse assunto. Não sei se estamos fazendo corretamente. Só sei que não estou cega e acrítica qdo a isso...E quanto ao desmame para dormir aqui de casa... a resposta está no seu próprio texto "Ah é, esqueci, dá mais trabalho "
ResponderExcluirBjs
Pois é Tatiane, quando estamos ligadas na missão é diferente, é sempre diferente negar um conflito ou encarar um conflito. A criança se desenvolve muito rapidamente, especialmente nos dois primeiros anos de vida, então não é de admirar as engasgadas maternas(paternas também), mas de fato o fundamental é enxergar, tentar reparar, tentar consertar. Toda mãe em algum momento da vida já usou a amamentação para "distrair" a criança, mas de fato algumas fazem disso um lugar-comum e a amamentação vira quase que exclusivamente um interesse da mãe. Curioso que são bem essas as que reclamam que a criança não quer desmamar. Mas não é suquinho encontrar as soluções, eu apanhei para perceber que a minha caçula, com 2,5 anos, estava me manipulando via amamentação para conquistar minha presença para brincar. Ela queria mesmo era a minha cia e não mamar, mas como havíamos estabelecido uma relação de eu parar de trabalhar meia hora para amamentá-la, fiquei presa nisso, mas ela não, ela se desenvolveu e marcou território do que queria comigo e então encontrei um novo modus operandi (passei a tirar uma hora e passeávamos) então saímos daquele quadrinho de incompreendidas mutuamente. Na real ela era a incompreendida, né? Eu era a "incompressora" rsrs.
ResponderExcluirCláudia, como sempre, um texto maravilhoso, mas minha visão é um pouco diferente. Não acho que um desmame aos 4 anos será sempre patológico, que a mãe necessariamente tem um problema de apego. Conheço histórias lindíssimas de aleitamento prolongado, que geraram crianças e mães muito seguras de si mesmas. A questão não é apenas cronológica, porque todos nós sabemos que as crianças se desenvolvem em ritmos muitas vezes absolutamente diferentes. Conheço uma criança que caminhou aos 8 meses. Conheço outra que só o fez com 15.
ResponderExcluirPra dizer que a mãe que amamenta além dos dois anos tem problemas de apego, questões psicológicas mal resolvidas, há que se avaliar cada caso. Mas acredito, sim, na naturalidade do desmame, sempre com observação na CRIANÇA. Sim, eu acho que a criança manda. Porque uma mãe que enfia o peito na boca de um filho que quer brincar de batman, como você exemplificou, não está respeitando a criança.
Minha filha tem 16 meses e mama pela manhã e à noite o colostro que estou produzindo pro irmão que vem aí. Às vezes ela pede "mamá" fora desses horários, eu dou. Às vezes é de manhã cedo e eu gostaria de passar mais tempo na cama, então pergunto se ela quer mamar. Se ela diz "não", levo-a pela mão até a cozinha pra pegar uma banana.
O que eu acho que é a amamentação não deve ser excessivamente racionalizada. Como fazer, quando parar, deveriam vir de dentro, do nosso coração e da leitura atenta e amorosa que fazemos do que nos comunicam nossos filhos.
O que os mamaços defendem não é a obrigação de aleitar "a perder de vista". Lutamos contra o status quo. Amamentar a perder de vista não é status quo. Se você decide desmamar seu filho aos dois anos, provavelmente não vai receber uma crítica sequer, mas palavras do tipo "até que enfim!". É como dizer que o movimento pela humanização do parto está negando às mulheres o direito de serem operadas voluntariamente. Esse direito já existe, oras. Não precisa ser defendido. Assim como existe o direito(dever?) de desmamar seu filho assim que ele completa um ano.
Beijos!
É muito complexo Lia, é um assunto espinhoso mesmo falar da necessidade de reflexão e compreensão do processo do desmame quando nosso problema central é moralismo para cima da amamentação.
ResponderExcluirSobre a questão das diferenças de desenvolvimento de uma criança para outra, sendo ambas as crianças saudáveis, sem doenças, essa diferença para maturidade integral, de corpo inteiro, vai ser de meses, provavelmente, não de anos.
Não defendo data para desmame, que é um processo gradual. Eu defendo que ele seja gradual de fato, que não fique estagnado, que não tranque, não congele, não vire uma relação padronizada.
Sobre as boas intenções maternas do ponto de vista egóico o mundo está cheio. Infelizmente projetamos muito nos nossos filhos e não somos capazes de perceber. Aqui eu trouxe um exemplo disso, que foi atestado pela Gab, no primeiro comentário. Ela, que é uma mãe que amamenta sem paninho, de peito aberto sem data de validade inscrita no peito, também atesta que vê esse comportamento por aí. Você nunca viu? mesmo?
Não afirmei em nenhum momento que os mamaços defendem a amamentação a perder de vista. Escrevi que na militância é mais comum encontrar mulheres com esse perfil. No status quo elas são avis rara.
Ah, de maneira nenhuma eu quis agredir as mães que optam por amamentar até 4, 5 anos. Não tenho o menor preconceito, sei de casos em tribos, até defesas baseadas na antropologia, que respeito muito. O que eu pergunto e a proposta aqui foi colocar questões como:
O que há com os desmames que não acompanham o resto do desenvolvimento do corpo da criança?
Como (não os porquês) um processo que começa por volta dos seis meses e pode terminar bem lentamente até, 2, 3 anos de idade, se arrasta até os 4, 5 anos ou mais?
Grata,
Cláudia
Olá Cláudia, como vai?
ResponderExcluirAchei seu texto muito bom!
É que o assunto é extenso e mesmo falando bastante, como vc fez, é difícil falar tudo não é?
Mas sabe... Eu entendi o que a Lia colocou! Ela não disse que nunca viu os casos citados por você, pois existem mesmo! Mas ela disse que já viu outras coisas!
Você não? Ficou esta dúvida para mim... Você só viu casos de crianças amamentadas após os 4 anos em tribos?? Mesmo?
E acho que em relação ao desenvolvimento das crianças, dependendo do que se fala, a diferença pode ser de meses ou pode ser de anos sim, a variação pode ser tanto maior se estivermos levando em conta fatores emocionais, psíquicos e não os físicos (que realmente acabam sendo diferenças naturalmente menores).
E você pergunta "como" e não "porquê" o processo de desmame pode se arrastar (?) para além dos 2 ou 3 anos?
Você já tem a resposta dos "porquês"? Este é o segundo texto seu que tive o prazer de ler, se você já escreveu algo que responda eu adoraria conhecer!
Obrigada.
Luzinete.
Oi Luzinete
ResponderExcluirSim, já vi crianças de 4 anos mamando e já soube de muitos adultos, meus amigos inclusive, que mamaram até 4, 5 anos. Eles são pessoas aparentemente tão saudáveis quanto as que não mamaram. A amamentação não é o único fator determinante da saúde psíquica ou fisiológica de uma pessoa.
Quanto às respostas de por quês não é meu foco porque sou reichiana. Quem envereda mais nos por quês são os psicanalistas e eles têm uma teoria sobre essas questões.
Para os reichianos, importa menos por que o pai bateu, por que bebeu, por que a mãe abandonou, por que mamou de menos ou demais. Para nós, reichianos, o que importa é que essa determinada e singularíssima pessoa tem uma padrão que a faz sofrer e ela quer livrar-se disso ou pelo menos usar uma roupinha mais folgada dentro do seu padrão, de suas couraças, para atenuar o sofrimento e ganhar liberdades conquistadas dentro da própria história e do contexto em que se criou.
Nós trabalhamos no COMO, por isso a relatividade dos fatos é maior e um mesmo tempo de amamentação não tem uma resposta exata. O que eu afirmo, com veemência, é que existe uma TENDÊNCIA, de acordo com o desenvolvimento natural infantil, de que 4 anos seja um tempo possivelmente conduzido mais pela mãe do que pela criança. Mas cada caso é um caso e existem sim crianças muito fragilizadas emocionalmente que podem apresentar uma necessidade mais intensa e extensa de mamar na mãe, extraindo daí a segurança emocional e a garantia de vínculo. Mas, de maneira geral, o vínculo estreitado pela amamentação se torna facilmente menor quando a criança descobre na mãe uma pessoa capaz de falar, cantar, contar histórias, dançar, ensinar a andar de bicicleta... O prazer de exclusividade oral vai se desfazendo com o tempo e além do peito, surgem outros prazeres orais de comida, de compartilhamento de comida com outras pessoas e sem co-dependêcia, isso costuma ser uma "vantagem" na fase de autonomia. Sinceramente, mesmo não recomendando desmame abrupto em nenhuma idade, absolutamente não acredito em trauma de desmame numa criança de 4 anos.
As mães têm de maneira geral tanta necessidade de submeter os filhos oralmente, que mesmo as que não amamentam costumam levar as mamadeiras e chupetas para além dos cinco anos. Alimentar o filhote é o nosso ato mais antigo de demonstrar interesse e amor. Algumas de nós colocam um peso excessivo nisso.
Espero ter respondido suas questões, Luzinete.
Gracias,
Cláudia
Obrigada pela atenção Cláudia!!
ResponderExcluirParece que na verdade através dos comentários o seu texto está se expandindo, atingindo outras nuances deste panorama tão amplo!! E isso é ótimo!!
Olha... Mais uma vez eu concordo com quase tudo, mas você acha mesmo que somente crianças muito fragilizadas emocionalmente podem apresentar uma necessidade mais intensa e extensa de mamar na mãe?
Obrigada!
Oh não Luzinete, você que perguntou se era possível, possível deve ser, eu pessoalmente acredito que isso seja bem raro e mesmo quando parece ser o caso, sempre é bom verificar quais são os sentimentos reais da mãe em desmamar, como é para ela perder esse tipo de controle sobre a criança, como é sentir a perda desse vínculo, como é substituir esse vínculo por outros etc.
ResponderExcluirOi, Cláudia,
ResponderExcluirDe verdade, não conheço ninguém que amamentou além dos três anos. Pode ser o meio em que vivemos. Minha militância em relação à dignidade do nascimento e temas correlatos é recente, então a maioria das pessoas ao meu redor é mesmo status quo.
Conheci apenas uma pessoa, da minha idade, que foi amamentada até os 7 anos e diz que, por causa disso, teve problemas no desenvolvimento da arcada dentária (dentes a menos). Não sei se procede, sei muito pouco sobre a história dela.
De fato, não consigo imaginar, no processo que vivo com minha filha, que ela vá mamar muito além dos dois anos. Mas não tenho embasamento teórico, ou mesmo casos para observar, que me permitam emitir qualquer opinião sobre o aleitamento além dos três anos. Provavelmente você está em contato com algumas situações que eu nunca vi, daí as reflexões. Pode ser que se eu conhecesse mais, diria a mesma coisa.
bjs!
Ótima reflexão, Claudia, entrei nos comentários para perguntar e acabei encontrando respostas nos mesmos. Muito bom.
ResponderExcluirAdoro te ler.
Beijo!
Oh não Cláudia!!
ResponderExcluirEu não perguntei se era possível (isso eu sei), eu perguntei se você conhecia pois não havia ficado claro para mim.
Mas agora acho que está.
Segundo sua opinião é raro mais pode haver casos em que a criança mama para além de seus 3 anos e isso não significar que a criança é fragilizada emocionalmente ou que a mãe seja preguiçosa ou controladora ou ainda ter algum outro problema!!
Quanto a traumas... Bem, eu já acho que dependendo de "como" (olha aí a relatividade) é feito o desmame, ou qualquer outra transição ou processo na vida de uma criança, traumas são possíveis independentemente da idade!
Quanto a verificar quais os sentimentos reais da mãe, concordo com você, e mais: acho que este tipo de reflexão deve mesmo ser feita, não só em relação a desmame e não só se a amamentação se prolongar para além dos 3 anos, mas sempre e em qualquer situação onde o foco for o bebê ou a criança!
Na verdade o grande "lance" de ser mãe é sermos capazes de perceber que somos cada vez menos "necessárias" na vida dos filhos!
Ou seja: devemos estar atentas sempre as necessidades verdadeiras dos filhotes, inclusive quando esta necessidade é de estarem distantes da gente!!
Na minha opinião este é um processo constante, que começa quando o bebê nasce e só acaba quando a mãe morre... Afinal, para a mãe filho é sempre filho, quem nunca viu um marmanjo escutando da mãe já velhinha um "não esquece o casaco?"? rsrsrs
É algo a ser trabalhado constantemente e que é um processo individual, não adianta querer estipular "datas", "prazos" e "idades", nem mesmo em relação a irmãos, pois cada um é único e tem necessidades diferentes que devem ser respeitadas!!
Mas é isso!
É preciso que a mãe esteja atenta não somente ao filho mas também a si própria, e isso constantemente!
Pode ser trabalhoso, mas com certeza vale a pena!
Gratíssima pela reflexões!
Também tô achando ótimos estes comentários, cheios de novas reflexões... ao mesmo tempo, o assunto parece bem + polêmico mesmo. Eu que não passei pelo desmame total ainda (mas ele claramente já começou), confesso que não tenho exatamente um prazo certo. Na minha cabeça só não queria que fosse precoce e sonhava pelo menos até 2 anos (o que coincide com a fase oral). Mas nunca parei pra pensar realmente até quando. E definitivamente não me passa pela cabeça, ao menos hoje, “tirar” assim, de modo deliberado. Eu realmente idealizo um processo natural. Sei lá, a conferir como será, como serão os sinais de duplo sentido (porque a relação é dupla, e eu também posso acabar “enchendo o saco” antes, né... sei que isso também rola, embora por agora nem imagine isso acontecer...rsrs).
ResponderExcluirOlha, os casos de desmame realmente natural que tenho visto acontece por volta de 2 anos, ou melhor entre 2 e 3 (e já são poucos, a grande maioria desmama antes, em geral influenciada por outras questões, externas e internas). Mas já conheci mulheres que amamentaram entre 3 e 4, e sinceramente não saberia dizer se eram casos de “pirações do desmame”, sempre me pareceu tudo muito lindo e natural!
Acho que um dos pontos chave aqui é a FREQUENCIA, ou seja, uma criança de 2 ou 3 não vai (ou não deveria) mamar como um bebê com menos de 1 ano. Pra mim o desmame gradual natural que tenho visto por aí é assim: vai ficando pouco, pouquinho, quase nada, dias alternados, uns 3 dias por semana, 1 vez por semana, até que acaba!
(A propósito, bem diferente do caso negativo que relatei acima, em que a criança de 2 anos mama loucamente, sofregamente, só quer mamar, mamar, mamar, mas porque essa é a sua – única – forma de captar uma relação de atenção com a mãe)
Nesta linha mais positiva do aleitamento prolongado, lembrei que li uma vez uma matéria com a atriz Cássia Kiss, mãe de 4 filhos, todos amamentados, e aí fui atrás pra compartilhar aqui.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u533999.shtml
Pois então, na época da matéria, o caçula de quase 5 anos ainda mamava, mas como ela explica: "Meu caçula, que vai fazer cinco, uma vez por semana diz 'Quero peitinho'. Mama dez segundos e sai. É puro afeto".
Na minha modesta opinião, isso de mamar 1 vez por semana por 10 segundos não entraria na categoria “pirações do desmame”. De novo, acho até bonito, sabem? E vcs, o que acham?
Enfim, seguimos conversando, que já me estiquei demais! É que o debate tá bom, muito grata a vcs!
Beijos definitivamente mamíferos!
Gab
Gab
ResponderExcluirEu não poderia, e não o fiz de fato, escrever melhor e mais claro do que esse seu texto. Disse tudo, exatamente assim. Para mim essa discussão de alto nível aqui é uma redenção nesse super assunto tabu que é o desmame.
Gratíssima,
Cláudia
Concordo com a Gab. Acho que a amamentação prolongada tem várias nuances.
ResponderExcluirEu fiz o desmame natural. Minha filha teve o mesmo padrão de mamadas de 1a6m até 3a2m: eram 4x ao dia, ao dormir e acordar à noite e para a soneca.
Nunca, mas nunca mesmo ofereci, nem mesmo como consolo quando era bebezinha. E confesso que quando ela tinha 2,5 anos eu já estava pronta para o desmame, mas a minha única ação, digamos assim, foi falar, dar dicas. Dizia que ela já era grandinha, que já não precisava mamar.
Com 3a2m, ela começou a esquecer algumas mamadas e diminuiu muito o tempo delas. Passou a mamar em menos de um minuto. Passaram-se 3 meses para o desmame total.
No nosso caso, foi sem conflito sim, eu pelo menos acho que a duração não foi nenhum pouco estimulada por mim.
Bel, pode ser no seu caso, cada caso tem suas singularidades. O desmame pode ser feito de um jeito alegre, sem conflitos. O conflito a que me refiro é numa expressão maior dos contextos de separação.
ResponderExcluirCláudia querida, são raros textos como o seu, que de tão bem escritos, desenvolvidos e reflexivos, me fazem encher os olhos e o coração de alegria e prazer na leitura. Meus parabéns, realmente excelente!
ResponderExcluirClaudia, estou começando a pensar sobre desmame (o Felipe está com 2a3m); após o texto, concluí que estou com preguiça. Sim, a amamentação pode ser um "cala boca", "para quieto guri", "não mexe alí, olha aqui o titi da mamãe" rs. Penso que, se a criança não decidir por ela mesma, que pelo menos seja gradual e não abrupto; acho péssimo também quando se usa a mentira, como dizer q o peito está machucado, que não tem mais leite, etc. Texto ótimo, como sempre. bjos
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